RELAÇÕES RACIAIS
NO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS – ÍNDIA (5)
INDEFERIDO… POR
SER CANARIM!
" Ontem e hoje
Antes que o
intenso movimento colonial europeu despertasse Portugal do seu letargo tantas
vezes secular, a África Oriental jazia esquecida e só nela trabalhavam meia
dúzia de homens de Portugal e da Índia num esforço sinérgico, num ideal comum –
o engrandecimento da Nação – quase abandonados pelos governos da metrópole.
Eram eles que empunhavam a bandeira portuguesa e batendo-se com as armas e
cimentando as conquistas pelo comércio, preparavam terreno para toda essa
espantosa evolução que vai transformando o continente negro dando-lhe o cunho
comum dos povo civilizados. Esqueceram-se os serviços de tantos desses
beneméritos, verdadeiros pioneiros da civilização europeia na África Oriental.
Silva Porto e Manuel António morreram abandonados. O exército da Índia que
aguentou as arremetidas do Bonga foi extinto, e volvidos vinte anos – que nem
os factos são tão velhos que tão depressa se esquecessem - no grande império português, criado e
consolidado pelo maior génio que Portugal contemporâneo produziu – António Enes
–
literato, dramaturgo, jornalista, guerreiro e estadista, em tudo sublime nos
seus arrojados voos;
neste mesmo império mandava soberanamente, despoticamente,
um cabo de guerra feliz, o comissário régio Mousinho de Albuquerque,
que,
nutrindo de velha data ódio entranhado contra os filhos da Índia Portuguesa,
neles cevava com sarcasmo inaudito e cruel." *
(*) São bem conhecidos os seus
despachos: «Indeferido por ser canarim».
Bibliografia:
Silva, F. Wolfango da *, «Estudos Económicos e Sociais sobre a Índia Portuguesa (Propostas à Junta Geral da Província)», Nova Goa, 1910, p.2
* Francisco António Wolfango da Silva(Nova Goa,1864-1947),
Coronel-médico, Chefe dos Serviços de Saúde da Índia, Vogal do Conselho do Governo, Presidente do Instituto Vasco da Gama ( fundado, em 1871,por iniciativa de Tomás Ribeiro, hoje Instituto Menezes Bragança), onde se ostenta o seu retrato a óleo, da autoria do pintor português Fausto Sampaio.
v.«Dicionário de Literatura Goesa»,Aleixo Manuel da Costa,Instituto Cultural de Macau.Fundação Oriente,1997, vol.III,págs.226-231.
JFSR 2016
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