quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

RELAÇÕES RACIAIS NO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS - ÍNDIA (1)



RELAÇÕES RACIAIS NO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS - ÍNDIA (1)

C. R. Boxer (1904-2000), como literariamente é conhecido Charles Ralph Boxer, é um historiador britânico, notável conhecedor da historiografia colonial portuguesa e holandesa. 



Militar de carreira, aposentado como major no Exército em 1947, o King's College, de Londres, ofereceu-lhe a Cátedra Camões de Português, cargo que ocupou durante vinte anos, tendo publicado cerca de 86 livros e opusculos sobre a história do Oriente, sobretudo dos séculos XVI e XVII.
É um dos maiores estudiosos da colonização portuguesa, sobre a qual publicou extensa bibliografia.


 Desta destacamos “Race Relations in the Portuguese colonial empire 1415-1825” , publicado pela Oxford University Press, em 1963. com tradução portuguesa, intitulada “Relações Raciais no Império Colonial Português”,   de Edições Afrontamento, Porto, 1977.

 “ (…) outro jesuíta italiano, padre Alexandre Valignano, famoso reorganizador das missões jesuítas da Ásia, classificou a população da Índia portuguesa (no sentido mais estrito do termo), nas seguintes categorias. Primeiro, os portugueses nascidos na Europa ou reinóis. Segundo, portugueses nascidos na Índia de pais europeus puros que eram muito poucos e distantes entre si. Terceiro, os nascidos de pai europeu e de mãe euroasiana, chamados castiços. Quarto, os meios sangues ou mestiços. Quinto e último, os indígenas indianos puros ou aqueles que tinham apenas uma gota de sangue europeu em suas veias.
(…) Que a maioria dos portugueses nascidos na Europa estava convencida da superioridade branca é demonstrado pela história das ordens religiosas e das forças armadas da Coroa, na Índia.
(…) A política da Coroa portuguesa relativamente à barreira da cor no Estado da Índia nem sempre foi clara e consistente, mas, no conjunto, os Reis portugueses seguiram o princípio de que a religião e não a cor deveria ser o critério para a cidadania portuguesa, e que todos os convertidos asiáticos ao cristianismo deveriam ser tratados como iguais dos seus correligionários portugueses.
(…) O que é certo é que a discriminação racial a favor dos portugueses nascidos na Europa, se nem sempre aceite na teoria, era larga e continuadamente exercida na prática pela grande maioria dos vice-reis e governadores ultramarinos.
(…) Tal como os reinóis estavam prontos para desprezar os mestiços, assim estes estavam prontos para desprezar os indianos locais de qualquer casta, a quem chamavam de «canarins».
(…)  A ditadura de Pombal, que de modo nenhum foi uma pura bênção quer para Portugal quer para as suas possessões ultramarinas, ao menos permitiu aos hindus de Goa um muito maior grau de tolerância.
(…)  Tolerância completa, essa teve que esperar até ao advento do constitucionalismo em Portugal, nos anos vinte e trinta de oitocentos, ou ainda, para algumas questões menores, até à implantação da República, em 1910."

 JFSR 2016



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