RELAÇÕES RACIAIS
NO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS - ÍNDIA (1)
C. R. Boxer
(1904-2000), como literariamente é conhecido Charles Ralph Boxer, é um
historiador britânico, notável conhecedor da historiografia colonial portuguesa
e holandesa.
Militar de
carreira, aposentado como major no Exército em 1947, o King's College, de Londres,
ofereceu-lhe a Cátedra Camões de Português, cargo que ocupou durante vinte anos,
tendo publicado cerca de 86 livros e opusculos sobre a história do Oriente, sobretudo
dos séculos XVI e XVII.
É um dos maiores
estudiosos da colonização portuguesa, sobre a qual publicou extensa
bibliografia.
Desta destacamos “Race Relations in the Portuguese colonial empire 1415-1825” , publicado pela Oxford University Press, em 1963. com tradução portuguesa, intitulada “Relações Raciais no Império Colonial Português”, de Edições Afrontamento, Porto, 1977.
“ (…) outro
jesuíta italiano, padre Alexandre Valignano, famoso reorganizador das missões
jesuítas da Ásia, classificou a população da Índia portuguesa (no sentido mais
estrito do termo), nas seguintes categorias. Primeiro, os portugueses nascidos
na Europa ou reinóis. Segundo,
portugueses nascidos na Índia de pais europeus puros que eram muito poucos e
distantes entre si. Terceiro, os nascidos de pai europeu e de mãe euroasiana,
chamados castiços. Quarto, os meios
sangues ou mestiços. Quinto e último,
os indígenas indianos puros ou aqueles que tinham apenas uma gota de sangue
europeu em suas veias.
(…) Que a maioria
dos portugueses nascidos na Europa estava convencida da superioridade branca é
demonstrado pela história das ordens religiosas e das forças armadas da Coroa,
na Índia.
(…) A política da
Coroa portuguesa relativamente à barreira da cor no Estado da Índia nem sempre
foi clara e consistente, mas, no conjunto, os Reis portugueses seguiram o
princípio de que a religião e não a cor deveria ser o critério para a cidadania
portuguesa, e que todos os convertidos asiáticos ao cristianismo deveriam ser
tratados como iguais dos seus correligionários portugueses.
(…) O que é certo
é que a discriminação racial a favor dos portugueses nascidos na Europa, se nem
sempre aceite na teoria, era larga e continuadamente exercida na prática pela
grande maioria dos vice-reis e governadores ultramarinos.
(…) Tal como os
reinóis estavam prontos para desprezar os mestiços, assim estes estavam prontos
para desprezar os indianos locais de qualquer casta, a quem chamavam de
«canarins».
(…) A ditadura de Pombal, que de modo nenhum foi
uma pura bênção quer para Portugal quer para as suas possessões ultramarinas, ao
menos permitiu aos hindus de Goa um muito maior grau de tolerância.
(…) Tolerância completa, essa teve que esperar até
ao advento do constitucionalismo em Portugal, nos anos vinte e trinta de
oitocentos, ou ainda, para algumas questões menores, até à implantação da República,
em 1910."
JFSR 2016
JFSR 2016
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