sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

FLORILÉGIO GOENSE-EÇA DE QUEIROZ



Eça de Queirós ( 1845-1900)

   José Maria de Eça de Queirós, um dos mais importantes escritores portugueses, autor de romances de reconhecida importância como Os Maias e O Crime do Padre Amaro, nasceu em 25 de Novembro de 1845, na Póvoa de Varzim, filho de José Maria Teixeira de Queirós, magistrado e par do Reino, e de Carolina Augusta Pereira d'Eça.
   Em 1866, Eça de Queirós terminou a Licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra, e passou a viver em Lisboa, exercendo a advocacia e o jornalismo. Foi director do periódico O Distrito de Évora, e colaborou em publicações periódicas.
   Por influência do seu companheiro e amigo universitário Antero de Quental, entregou-se ao estudo de Proudhon e aderiu ao grupo do Cenáculo. Em 1870, tomou parte activa nas Conferências do Casino, e iniciou, juntamente com Ramalho Ortigão, a publicação dos folhetins As Farpas.
    Nomeado administrador do concelho de Leiria, foi enquanto permaneceu nesta cidade que Eça de Queirós escreveu a sua primeira novela realista, O Crime do Padre Amaro, publicada em 1875.
   Tendo ingressado na carreira diplomática, em 1873 foi nomeado cônsul de Portugal em Havana, Cuba.
   Transferido para Inglaterra, dois anos mais tarde, durante os quais exerceu o cargo em Newcastle e Bristol, foi em terras britânicas, onde residiu até 1878, que iniciou a escrita de O Primo Basílio, e começou a arquitectar Os Maias, O Mandarim e A Relíquia.
   Em 1888 foi transferido para o consulado de Paris. Publica Os Maias, e chega a publicar na imprensa Correspondência de Fradique Mendes e A Ilustre Casa de Ramires.
   Nos últimos anos, escreveu para a imprensa periódica, fundando e dirigindo a Revista de Portugal. Sempre que vinha a Portugal, reunia em jantares com o grupo dos Vencidos da Vida.
    Morreu em 16 de Agosto de 1900 na sua casa de Neuilly-sur-Seine, perto de Paris.

       
   “Uma Campanha Alegre”, publicado em Lisboa em dois volumes em 1890-1891, é uma colectânea de folhetins escritos por Eça de Queirós em As Farpas, são críticas à vida social e política, abrangendo assuntos como religião, jornalismo e literatura da época.

XXXIV
   Setembro de 1871
   “Andávamos inteiramente esquecidos da Índia! Uma clara manhã ela aparece violentamente no meio de nós, envolta num telegrama do senhor visconde de S. Januário. Por essa ocasião muito bom português se admirou que a Índia ainda fosse nossa! Ela saíra, havia muito, das pompas solenes do artigo de fundo. Quase não aparecia nos orçamentos. Obscura, velha , arruinada, estéril, dobrada sobre si mesma, todos a supúnhamos unicamente ocupada, nas brumas distante, a comer o seu arroz! A notícia de que ele ainda tinha vitalidade bastante para se revoltar – espantou! A certeza que ainda ali havia soldados, cidadãos, fortalezas, interesses, telégrafos – quase aterrou!
   Uma vez que a gloriosa Índia ainda existia, era necessário que a respeito dela existisse o correspondente brio patriótico. Sacudiu-se o velho brio patriótico do pó e da caliça –e cada um envergou o velho brio patriótico!
   Começou então o movimento. A baixa teve os seus alvitres heróicos. Os jornais perfilaram de novo, em parada, as frases solenes, de peruca e rabicho, que celebram num ritmo dormente o alto amor da Pátria. Meteu-se na mão do senhor infante D. Augusto uma espada – condicional. A própria Estefânia, comovida, venceu os nervos e a preguiça, e partiu, cheia de mobília e de brio, a salvar o mapa das possessões…
   Nós, entretanto, ríamos.
Januário Correia de Almeida.

(…) Pois bem! Ainda assim uma revolta na Índia não tem seriedade. E o motivo é que os oficiais, que, para terem maior número de rupias de soldo, tentaram uma revolta, vêem-se, realizada ela, singularmente embaraçados.

(…) Aí está a razão por que uma revolta na Índia não tem valor, e porque foram tão supérfluos os vossos fervores patrióticos!

(…) A Índia não serve senão para nos dar desgostos.
   É um pedaço de terra tão escasso que se anda a cavalo num dia. As pequenas povoações caem em ruína e em imundície; não há nelas movimento, nem iniciativa; a única cultura é o arroz, que exportam e cinco para importar a oito; a única indústria, fazer olas, que são os encanastrados de palmeira com que se erguem os pacaris, alpendres coloridos e frescos que sombreiam as janelas; não existe nenhum comércio; os tributos esmagam; (…) e no entanto velhos pardieiros, que se esboroam às mordeduras do sol, esconderijos de corvos, lembram as nossas glórias e alastram o chão de caliça. Tal é a Índia Portuguesa.
   Noutro número de As Farpas, lembrámos, a respeito das colónias, este grande melhoramento – vendê-las! Ocorre-nos outro ainda maior a respeito da Índia – dá-la!

(…) Se podemos vender a Índia aos Ingleses, vendamos a Índia, por Deus!"
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*Januário Correia de Almeida, Visconde de São Januário, Governador-Geral do Estado da Índia (1870-71)

** Revolta de Marcela, em 21 de Setembro de 1871, durante o Governo do Visconde de São Januário, levando à mobilização de meios extraordinários, e na sequência da qual foi extinto o Exército da Índia.

 
Bibliografia: sob consulta directamente ao autor. 


 JFSR 2016

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