Eça de Queirós ( 1845-1900)
José Maria de Eça de Queirós, um dos mais
importantes escritores portugueses, autor de romances de reconhecida
importância como Os Maias e O Crime do Padre Amaro, nasceu em 25
de Novembro de 1845, na Póvoa de Varzim, filho de José Maria Teixeira de
Queirós, magistrado e par do Reino, e de Carolina Augusta Pereira d'Eça.
Em 1866, Eça de Queirós terminou a
Licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra, e passou a viver em Lisboa,
exercendo a advocacia e o jornalismo. Foi director do periódico O Distrito
de Évora, e colaborou em publicações periódicas.
Por influência do seu companheiro e amigo
universitário Antero de Quental, entregou-se ao estudo de Proudhon e aderiu ao
grupo do Cenáculo. Em 1870, tomou parte activa nas Conferências do
Casino, e iniciou, juntamente com Ramalho Ortigão, a publicação dos
folhetins As Farpas.
Nomeado
administrador do concelho de Leiria, foi enquanto permaneceu nesta cidade que
Eça de Queirós escreveu a sua primeira novela realista, O Crime do Padre
Amaro, publicada em 1875.
Tendo ingressado na carreira diplomática, em
1873 foi nomeado cônsul de Portugal em Havana, Cuba.
Transferido para Inglaterra, dois anos mais
tarde, durante os quais exerceu o cargo em Newcastle e Bristol, foi em terras
britânicas, onde residiu até 1878, que iniciou a escrita de O Primo Basílio, e começou a arquitectar Os
Maias, O Mandarim e A Relíquia.
Em 1888 foi transferido para o consulado de
Paris. Publica Os Maias,
e chega a publicar na imprensa Correspondência de Fradique Mendes e A
Ilustre Casa de Ramires.
Nos últimos anos, escreveu para a imprensa
periódica, fundando e dirigindo a Revista de Portugal. Sempre que vinha
a Portugal, reunia em jantares com o grupo dos Vencidos da Vida.
Morreu
em 16 de Agosto de 1900 na sua casa de Neuilly-sur-Seine, perto de Paris.
“Uma Campanha Alegre”, publicado em Lisboa em dois volumes em 1890-1891, é uma colectânea
de folhetins escritos por Eça de Queirós em As Farpas, são
críticas à vida social e política, abrangendo assuntos como religião,
jornalismo e literatura da época.
XXXIV
Setembro de 1871
“Andávamos inteiramente esquecidos da Índia!
Uma clara manhã ela aparece violentamente no meio de nós, envolta num telegrama
do senhor visconde de S. Januário. Por essa ocasião muito bom português se
admirou que a Índia ainda fosse nossa! Ela saíra, havia muito, das pompas
solenes do artigo de fundo. Quase não aparecia nos orçamentos. Obscura, velha ,
arruinada, estéril, dobrada sobre si mesma, todos a supúnhamos unicamente
ocupada, nas brumas distante, a comer o seu arroz! A notícia de que ele ainda
tinha vitalidade bastante para se revoltar – espantou! A certeza que ainda ali
havia soldados, cidadãos, fortalezas, interesses, telégrafos – quase aterrou!
Uma vez que a gloriosa Índia ainda existia,
era necessário que a respeito dela existisse o correspondente brio patriótico. Sacudiu-se o velho brio patriótico do pó e da caliça
–e cada um envergou o velho brio
patriótico!
Começou então o movimento. A baixa teve os
seus alvitres heróicos. Os jornais perfilaram de novo, em parada, as frases
solenes, de peruca e rabicho, que celebram num ritmo dormente o alto amor da
Pátria. Meteu-se na mão do senhor infante D. Augusto uma espada – condicional.
A própria Estefânia, comovida, venceu
os nervos e a preguiça, e partiu, cheia de mobília e de brio, a salvar o mapa
das possessões…
(…) Pois bem!
Ainda assim uma revolta na Índia não tem seriedade. E o motivo é que os
oficiais, que, para terem maior número de rupias de soldo, tentaram uma
revolta, vêem-se, realizada ela, singularmente embaraçados.
(…) Aí está a
razão por que uma revolta na Índia não tem valor, e porque foram tão supérfluos
os vossos fervores patrióticos!
(…) A Índia não
serve senão para nos dar desgostos.
É um pedaço de terra tão escasso que se anda
a cavalo num dia. As pequenas povoações caem em ruína e em imundície; não há
nelas movimento, nem iniciativa; a única cultura é o arroz, que exportam e
cinco para importar a oito; a única indústria, fazer olas, que são os
encanastrados de palmeira com que se erguem os pacaris, alpendres coloridos e frescos que sombreiam as janelas;
não existe nenhum comércio; os tributos esmagam; (…) e no entanto velhos
pardieiros, que se esboroam às mordeduras do sol, esconderijos de corvos,
lembram as nossas glórias e alastram o chão de caliça. Tal é a Índia
Portuguesa.
Noutro número de As Farpas, lembrámos, a respeito das colónias, este grande
melhoramento – vendê-las! Ocorre-nos outro ainda maior a respeito da Índia –
dá-la!
(…) Se podemos
vender a Índia aos Ingleses, vendamos a Índia, por Deus!"
……………………………………………………………………………………………………………………………
*Januário Correia
de Almeida, Visconde de São Januário, Governador-Geral do Estado da Índia
(1870-71)
** Revolta de
Marcela, em 21 de Setembro de 1871, durante o Governo do Visconde de São
Januário, levando à mobilização de meios extraordinários, e na sequência da
qual foi extinto o Exército da Índia.
Bibliografia: sob consulta directamente ao autor.
JFSR 2016
Bibliografia: sob consulta directamente ao autor.
JFSR 2016
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