RELAÇÕES RACIAIS
NO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS – ÍNDIA (4)
Gomes da Costa e
a bala do índio
Manuel Gomes da
Costa - que viria a ser o chefe do golpe de “28 de Maio de 1926”, que instaurou a
Ditadura Militar e possibilitou a ascensão de Salazar e do Estado Novo - enquanto
capitão na Índia, tendo participado na repressão da revolta dos Ranes de
1895/96, deixou consignado no Relatório de Campanha, cuja publicação foi
promovida pelo seu filho Carlos Gomes da Costa, o seguinte:
A grande barreira
que se opunha ao conseguimento dos seus fins, caíra por terra – seguiu-se uma
luta feroz nos jornais, luta donde os descendentes
saíram a escorrer sangue.
O canarim triunfava, impava de orgulho,
sentindo-se senhor dos destinos da Índia, e um deles (2)no seu jornal, vaticinava aos
descendentes dos heróis da Conquista «que os seus filhos haviam de ser amas de
leite dos netos dele, canarim». (3)
Bernardo Francisco H.da Costa |
«No dia 25 de
Abril, imediato ao da chegada a Lisboa, era o Capitão Gomes da Costa ferido com
um tiro numa perna, pelo canarim Constâncio Roque da Costa*. Este tiro foi o
segundo da Campanha da Índia, consequência ainda dos ódios da política indiana
e epílogo da revolta de Goa.(…)
Constâncio Roque da Costa |
A bala do índio cortou o femural da perna
direita do heroe de Gutnem, deixando-lhe uma ferida que, permanentemente
aberta, o incomodou todo o resto da vida.
A fama dos seus
feitos chegará entretanto ao conhecimento de Mouzinho de Albuquerque que o
requisitou para capitão-mór do Mossuril (districto de Moçambique); e assim, mal
tinha abandonado as muletas, Gomes da Costa embarcava para aquela colónia em
Setembro de 1896.» (4)
* Constâncio Roque da Costa (Margão - Goa, n.1858, f.1934), diplomata, encarregado de negócios na Argentina e Uruguai. Entre as várias missões que desempenhou, a ele se deve, em grande parte, o bom êxito na obtenção do serviço do "Sud-Express" diário de Lisboa a Paris. Em 1910, após a proclamação da República, ocupava o cargo de director-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Preso em 1913, como implicado na tentativa monárquica de 21 de Outubro, foi afastado do serviço público, regressando, em 1916, definitivamente a Goa.
(1) «Eu não
escrevo esta palavra com o sentido ultrajante, que muitos lhe querem dar. Designo
como canarim, o índio cristão, pois é nesta acepção, eu deve tomar-se esta
palavra, embora etnologicamente signifique: - habitante de Canará – por se
supôr que os primeiros habitantes de Goa dali vieram.»
(2) Bernardo da
Costa, no seu jornal «O Ultramar».”
(3) Costa, Carlos
Gomes da: «A Revolta de Goa e a Campanha de 1895/1896», Lisboa/MCMXXXIX,
págs.13-14
(4) Costa, Carlos Gomes da: «A vida agitada do Marechal Gomes da
Costa, Documentário da vida militar e política do grande soldado» compilado por
seu filho, Livraria Popular de Francisco Franco, 1.º vol.,págs,46-60.
JFSR 2016
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ResponderEliminarIndo-Portuguese history, Goa, revolta ranes, Gomes da Costa, colonial, racial relations, canarim