domingo, 24 de janeiro de 2016

RELAÇÕES RACIAIS NO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS - ÍNDIA (4)




RELAÇÕES RACIAIS NO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS – ÍNDIA (4)

Gomes da Costa e a bala do índio

Manuel Gomes da Costa - que viria a ser o chefe do golpe de “28 de Maio de 1926”, que instaurou a Ditadura Militar e possibilitou a ascensão de Salazar e do Estado Novo - enquanto capitão na Índia, tendo participado na repressão da revolta dos Ranes de 1895/96, deixou consignado no Relatório de Campanha, cuja publicação foi promovida pelo seu filho Carlos Gomes da Costa, o seguinte: 


«A dissolução do exército da Índia, em 1871, marca uma ètape gloriosa para o canarim (1), porque o exército tinha sido o refúgio dos descendentes de europeus que ocuparam os postos superiores, excluindo deles, sistematicamente, os seus rivais em predomínio. Enquanto existisse, os descendentes tinham uma força e o canarim não poderia dominar a situação.
A grande barreira que se opunha ao conseguimento dos seus fins, caíra por terra – seguiu-se uma luta feroz nos jornais, luta donde os descendentes saíram a escorrer sangue. 
 O canarim triunfava, impava de orgulho, sentindo-se senhor dos destinos da Índia, e um deles (2)no seu jornal, vaticinava aos descendentes dos heróis da Conquista «que os seus filhos haviam de ser amas de leite dos netos dele, canarim». (3)
Bernardo Francisco H.da Costa










«No dia 25 de Abril, imediato ao da chegada a Lisboa, era o Capitão Gomes da Costa ferido com um tiro numa perna, pelo canarim Constâncio Roque da Costa*. Este tiro foi o segundo da Campanha da Índia, consequência ainda dos ódios da política indiana e epílogo da revolta de Goa.(…)




Constâncio Roque da Costa
 A bala do índio cortou o femural da perna direita do heroe de Gutnem, deixando-lhe uma ferida que, permanentemente aberta, o incomodou todo o resto da vida.
A fama dos seus feitos chegará entretanto ao conhecimento de Mouzinho de Albuquerque que o requisitou para capitão-mór do Mossuril (districto de Moçambique); e assim, mal tinha abandonado as muletas, Gomes da Costa embarcava para aquela colónia em Setembro de 1896.» (4)

* Constâncio Roque da Costa (Margão - Goa, n.1858, f.1934), diplomata, encarregado de negócios na Argentina e Uruguai. Entre as várias missões que desempenhou, a ele se deve, em grande parte, o bom êxito na obtenção do serviço do "Sud-Express" diário de Lisboa a Paris. Em 1910, após a proclamação da República, ocupava o cargo de director-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Preso em 1913, como implicado na tentativa monárquica de 21 de Outubro, foi afastado do serviço público, regressando, em 1916, definitivamente a Goa.
(1) «Eu não escrevo esta palavra com o sentido ultrajante, que muitos lhe querem dar. Designo como canarim, o índio cristão, pois é nesta acepção, eu deve tomar-se esta palavra, embora etnologicamente signifique: - habitante de Canará – por se supôr que os primeiros habitantes de Goa dali vieram.»
(2) Bernardo da Costa, no seu jornal «O Ultramar».”
(3) Costa, Carlos Gomes da: «A Revolta de Goa e a Campanha de 1895/1896», Lisboa/MCMXXXIX, págs.13-14
(4) Costa, Carlos Gomes da: «A vida agitada do Marechal Gomes da Costa, Documentário da vida militar e política do grande soldado» compilado por seu filho, Livraria Popular de Francisco Franco, 1.º vol.,págs,46-60.

JFSR 2016

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  2. palavras chave:
    Indo-Portuguese history, Goa, revolta ranes, Gomes da Costa, colonial, racial relations, canarim

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