sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

RELAÇÕES RACIAIS NO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS – ÍNDIA (3)

 RELAÇÕES RACIAIS NO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS – ÍNDIA (3)



Bernardo Peres da Silva, Prefeito dos Estados da Índia
(o deputado "canarim")

Bernardo Peres da Silva (Goa, Neurá, 15 de Outubro de 1775 — Lisboa, 14 de Novembro de 1844), médico, professor da Escola Médico-Cirúrgica de Goa, e político liberal português, de origem goesa, deputado às Cortes do vintismo e da Monarquia Constitucional Portuguesa, e o único goês a assumir o governo da Índia Portuguesa.
A notícia da nomeação de Bernardo Peres da Silva como Prefeito dos Estados da Índia, foi recebida em Goa pelo final de Dezembro de 1834.
 A colónia portuguesa, que se havia oposto à candidatura às Cortes de Bernardo Peres em 1822 e 1837, bem como o vice-rei D. Manuel de Portugal, e os europeus em geral, não compreendiam bem o confiar àquele o governo da Índia.
“Sabe Deus, representava ele às Cortes, em 1827, a colónia portuguesa, o que solicitará o deputado canarim que para aí vai, no caso que tenha entrada nas Cortes, pois estes indígenas beijam os ferros por gosto, com tanto que possam também por sua vez praticar violências entre o mísero povo miúdo… Haja Vossa Alteza de lançar sobre os Portugueses da Ásia as suas prudentes vistas, a fim de extirpar os princípios subversivos, e desorganizadores do que se acham hoje os indígenas mais do que nunca possuídos, e as causas que prometem um fim desastroso.”(1)


Tendo chegado a Goa no dia 10 de Janeiro de 1835, tomou posse do cargo no dia 14 daquele mês. Sendo a primeira vez que um cidadão natural de Goa ia governar a Índia Portuguesa, Bernardo Peres da Silva foi inicialmente recebido com grande entusiasmo pela população local, embora entre os militares e funcionários de origem europeia fossem muitas as dúvidas e grande a hostilidade ao novo regime que ele representava.
Algumas das medidas tomadas por Bernardo Peres da Silva afectaram seriamente os interesses instalados em Goa e foram particularmente mal recebidas pelos funcionários metropolitanos destacados na colónia, que se sentiam ameaçados no seu estatuto e privilégios, e pelas chefias militares, exclusivamente metropolitanas. A desconfiança com que fora recebido, e o descontentamento causado pelas suas acções iniciais, esteve na base da revolta das forças militares, desencadeada na noite 1 de Fevereiro de 1835.
Apesar de nem todas as unidades militares terem apoiado a revolta, esta terminou com a destituição de Bernardo Peres da Silva, apenas 17 dias após a sua tomada de posse, tendo este sido detido, embarcado à força num navio e obrigado a partir para o exílio em Bombaim.
Submetendo-se à vontade real, Bernardo Peres da Silva aceitou a nomeação do novo governador Simão Infante de Lacerda de Sousa Tavares, barão de Sabroso, e regressou a Goa, onde se reintegrou na vida política da colónia.
Voltou a ser eleito deputado às Cortes em eleições realizadas a 2 de Setembro de 1838, sendo sucessivamente reeleito em 7 de Abril de 1849 e em 9 de Outubro de 1842. A sua acção no Parlamento foi de grande relevo, tendo como membro da Comissão Parlamentar de Política Colonial defendido intransigentemente os interesses da Índia Portuguesa e de outros territórios ultramarinos portugueses. Também propôs a retirada das forças militares metropolitanas estacionadas em Goa. Um dos seus discursos na Câmara dos Deputados foi publicado em 1840, com o título de Aos Representantes da Nação Portuguesa. Manteve-se como deputado eleito por Goa até falecer.

"(…) Frederico Denis de Ayala, escritor, natural de Goa e descendente de europeus, um mal disfarçado anti-indígena e irredutível anti-perista, quanto ostensivo europeísta a apaixonado da colónia branca de Goa, em 1887 retrata a Bernardo Peres em termos irreverentes e ríspidos que antes revelam a sua própria atitude hostil de espírito:
“Era ossudo e nervoso, cabelo raro, quasi calvo. As faces cavadas, o nariz caia-lhe em asas sobre o beiço superior franzido deixando ver os dentes. Parecia doente e era-o na alma. O rosto anguloso, o olhar seco e ávido, os ombros um pouco erguidos, indicavam o quer que é de rebelde e ambicioso. Nem bondade nem inteligência – um anjo caído” (Goa antiga e Moderna, 2.ª ed.,pg.212)." (2)



Bibliografia:
(1) Ayalla, Frederico Diniz D’, “Goa antiga e moderna”,Esquilo,Lisboa,2011,p.211
(2) Carvalho, Jeremias Xavier de, “Ecoando através das eras” Parte II – Três Centenários Fasc. 1.º Bernardo Peres da Silva, Arcádia Oriente e Ocidente, Goa, 1980, p.7.

 JFSR 2016

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