domingo, 10 de janeiro de 2016

CUNHA RIVARA, UM ORIENTALISTA INJUSTAMENTE ESQUECIDO



 CUNHA RIVARA (1809-1879)
 UM ORIENTALISTA INJUSTAMENTE ESQUECIDO  

      Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara (Arraiolos, 23 de Junho de 1809 — Évora, 20 de Fevereiro de 1879), médico diplomado em Coimbra, professor, bibliógrafo, deputado às Cortes, destacou-se enquanto estudioso da história da presença portuguesa na Índia e como defensor da língua concani.
    Não se sentindo atraído pela prática clínica, optou por iniciar uma carreira administrativa no Governo Civil de Évora, no qual ingressou em 1837 como oficial administrativo da respectiva secretaria. Em Outubro desse mesmo ano foi nomeado professor de Filosofia Racional e Moral do Liceu de Évora.
    Em 1838 foi nomeado pelo governo da rainha D. Maria II para director da Biblioteca Pública da cidade de Évora, cargo que exerceu até 1855, distinguindo-se como bibliotecário e bibliófilo, levando a cabo um trabalho assinalável na reorganização daquela biblioteca e publicado o seu catálogo.
    Nas eleições gerais de Dezembro de 1852 foi eleito deputado pelo círculo de Évora, não concluindo a legislatura por ter sido nomeado secretário-geral do governador-geral do Estado da Índia, acompanhando António César de Vasconcelos Correia, 1.º conde de Torres Novas, que fora nomeado para o cargo.
    Entre as missões que lhe foram confiadas contou-se o estabelecimento da circunscrição dos bispados católicos da Índia sob jurisdição do Padroado do Oriente, então redefinidos pela Concordata de 1857, pois para além das funções de secretário-geral, em 1862 foi nomeado para o cargo de Comissário Régio no Oriente. 

    Essas funções, e a questão das dioceses, levaram a que empreendesse várias viagens pelo subcontinente indiano e por outras regiões do Oriente, em resultado das quais elaborou um extenso trabalho de investigação descrevendo grande número de ruínas e monumentos relacionados com a presença dos portugueses naquela região.
    Reconduzido por sucessivas portarias, acompanhando os mandatos de Vasconcelos Correia e do seu substituto José Ferreira Pestana, permaneceria no cargo até 1870, ano em que foi dada por finda a sua acção.
    Foi, porém, nomeado para continuar a história da Índia com remuneração igual, acumulando com o cargo gratuito de Comissário dos Estudos da Índia, assim se conservando Rivara na Índia até 1877, ano em que regressou a Portugal.
    Para além de uma atitude marcadamente orientalista, focada na história da presença portuguesa na Índia, como sucessor dos grandes cronistas portugueses do passado, uma espécie de João de Barros ou Diogo do Couto oitocentista, Rivara produziu um destacado trabalho em prol do concanim, a língua nativa de Goa.

    Se o orientalismo, sobretudo a partir de Edward W. Said, assumiu um aspecto fortemente negativo, como método para garantir a sujeição dos povos orientais às potências europeias, outros reconhecem que o trabalho de diversos orientalistas contribuiu para ampliar os limites do conhecimento histórico, e nessa perspectiva sempre se poderia inscrever Rivara de maneira positiva no âmbito do orientalismo, relativamente à sua campanha para a recuperação social e cultural do concanim. O seu «Ensaio histórico da língua concani» (1858) é, ainda hoje, considerado como a obra que permitiu um melhor conhecimento desta língua e feito com que readquirisse a sua dignidade.




 Bibliografia: sob consulta directamente ao autor. 

 JFSR 2016

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