CUNHA RIVARA (1809-1879)
UM ORIENTALISTA INJUSTAMENTE ESQUECIDO
Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara (Arraiolos, 23 de Junho de 1809 —
Évora, 20 de Fevereiro de 1879), médico diplomado em Coimbra, professor, bibliógrafo,
deputado às Cortes, destacou-se enquanto estudioso da história da presença portuguesa
na Índia e como defensor da língua concani.
Não se sentindo
atraído pela prática clínica, optou por iniciar uma carreira administrativa no Governo
Civil de Évora, no qual ingressou em 1837 como oficial administrativo da
respectiva secretaria. Em Outubro desse mesmo ano foi nomeado professor de Filosofia
Racional e Moral do Liceu de Évora.
Em 1838 foi
nomeado pelo governo da rainha D. Maria II para director da Biblioteca Pública
da cidade de Évora, cargo que exerceu até 1855, distinguindo-se como
bibliotecário e bibliófilo, levando a cabo um trabalho assinalável na
reorganização daquela biblioteca e publicado o seu catálogo.
Nas eleições
gerais de Dezembro de 1852 foi eleito deputado pelo círculo de Évora, não concluindo a legislatura por
ter sido nomeado secretário-geral do governador-geral do Estado da Índia,
acompanhando António César de Vasconcelos Correia, 1.º conde de Torres Novas,
que fora nomeado para o cargo.
Entre as missões
que lhe foram confiadas contou-se o estabelecimento da circunscrição dos bispados
católicos da Índia sob jurisdição do Padroado do Oriente, então redefinidos
pela Concordata de 1857, pois para além das funções de secretário-geral, em 1862
foi nomeado para o cargo de Comissário Régio no Oriente.
Essas funções, e
a questão das dioceses, levaram a que empreendesse várias viagens pelo subcontinente
indiano e por outras regiões do Oriente, em resultado das quais elaborou um
extenso trabalho de investigação descrevendo grande número de ruínas e
monumentos relacionados com a presença dos portugueses naquela região.
Reconduzido por sucessivas portarias,
acompanhando os mandatos de Vasconcelos Correia e do seu substituto José
Ferreira Pestana, permaneceria no cargo até 1870, ano em que foi dada por finda
a sua acção.
Foi, porém, nomeado
para continuar a história da Índia com remuneração igual, acumulando com o cargo gratuito de
Comissário dos Estudos da Índia, assim se conservando Rivara na Índia até 1877,
ano em que regressou a Portugal.
Para além de uma
atitude marcadamente orientalista, focada na história da presença portuguesa na
Índia, como sucessor dos grandes cronistas portugueses do passado, uma espécie
de João de Barros ou Diogo do Couto oitocentista, Rivara produziu um destacado
trabalho em prol do concanim, a língua
nativa de Goa.
Se o orientalismo, sobretudo a partir de
Edward W. Said, assumiu um aspecto fortemente negativo, como método para
garantir a sujeição dos povos orientais às potências europeias, outros
reconhecem que o trabalho de diversos orientalistas contribuiu para ampliar os
limites do conhecimento histórico, e nessa perspectiva sempre se poderia inscrever
Rivara de maneira positiva no âmbito do orientalismo, relativamente à sua
campanha para a recuperação social e cultural do concanim. O seu «Ensaio histórico da língua concani» (1858)
é, ainda hoje, considerado como a obra que permitiu um melhor conhecimento
desta língua e feito com que readquirisse a sua dignidade.
Bibliografia: sob consulta directamente ao autor.
JFSR 2016
Bibliografia: sob consulta directamente ao autor.
JFSR 2016
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