“Os Festejos do Centenário da Índia”
IV Centenário do Descobrimento da Índia –
1898
A respeito dos “Festejos do (IV) Centenário da Índia”, Tomás
Ribeiro insurgiu-se contra o propósito do governo presidido por Hintze Ribeiro (
líder do Partido Regenerador) de celebrar, em 1897, o quarto centenário da
partida de Vasco da Gama, e não do
descobrimento da Índia, que ocorreria em 1898, bem como, ainda, de promover uma exposição universal, com o País endividado perante os
credores internacionais, publicando, no n.º 3 do "Mensageiro", um poemeto intitulado «Senhor, Não!», dirigido ao Rei D. Carlos.
“Hoje o Mensageiro
insere a respeito da festa internacional
que se prepara para 1898 o memorial a El-Rei: - Senhor, não! -
A minha primeira ideia foi logo formular um Recurso á Coroa. E aqui vae.
Havia eu
exposto já no anno passado – 1896 – por via do meu illustrado collega O Popular, ao bom senso do governo,
então presidido pelo Sr. Hintze Ribeiro*, à gente portugueza, à imprensa de Portugal e à respectiva comissão executiva creada por
Hintze Ribeiro |
decreto de 15 de Maio de
1894, que a festa (nacional) devia antes effectuar-se em 1898 por ser então o
quarto centenário do descobrimento da Índia e não em 1897 que apenas era o
centenário da partida de Vasco da Gama para o descobrimento e não, do descobrimento.
E como isto parecesse mais razoável não porque eu o dissesse, mas porque o era,
visto ser o descobrimento da Índia e não a sahida do Tejo o grande feito épico
a glorificar, assim se decidiu no conselho do Olympo.
(…) Agora expliquemos o título do memorial:
- Senhor, não!
Pode
parecer uma intimação ou uma impertinência e é uma súpplica.
(…)
Convidar os nossos credores estrangeiros a uma festa antes de concertarmos com
elles as nossas dívidas!!...
- Senhor,
não! – Isto não é possível sem deshonra
para nós. Até me permitto sublinhar a palavra: - deshonra.(…)
Feitoria,
23 de Maio de 1897
Um – Portugal-Velho
Senhor, não!
I
Eu, abaixo assignado, um mau
cauzídico,
mas velho portuguez, rude e serrano,
escrevo neste pleito ha mais d’um
anno
sem que me ouvísseis nunca, Senhor
Rei!
por isso hoje, recorro a Vós, e,
supplice,
directamente venho crente e attento,
pedir-Vos com sincero acatamento
um despacho, - alvará, - decreto, -
ou lei –
contra uma decisão cruel, sacrílega!
do governo, Senhor, do ministério
cujo patriotismo e bom critério
tive o ouzio de crer e proclamar.
Vamos ter a parodia dos Luziadas!
vamos ver os barões assignalados
vestidos d’arlequins, sarapintados,
troupe de foliões a fungagar!
Uma lei decidiu por voto unânime
consagrar centenario á egrégia fama
do grande Capitão – Vasco da Gama
e Vós sanccionastes esta lei.
Hoje, errando os preceitos
chronologicos,
o governo decreta centenário
a quantos caibam no cadoz do Aquário!...
- cúmplice não sejaes, não, Senhor
Rei!
(………………………………………………………………..)
Albuquerque, o fidalgo, sem avizo,
ao ver a caza cheia, causa dó,
por não ter logo alli que dar aos
hospedes!
offerece-lhes no fim, com muita
magua,
que os pode constipar, um copo
d’agua;
e dança então o Índico – Mandó -
Os Ranes de Pondá e de Canácona
honrarão a première dos RECREIOS.
findas as diversões e os devaneios
lança-se fogo a todo o Colizeu
e arde tudo!
Depois: a festa fúnebre
por alma d’este reino de festanças.
Pela porta das Bemaventuranças
Vê-se o vosso governo entrar no céo.
(………………………………………………………………)
Não, Senhor, não! Reconquistado o preito
devido a Portugal, de novo - augusto -
convidemos o mundo, ha muito affeito
a trocar homenagens com o venusto
velho. E então de cruz de Cristo ao peito,
- a cruz de simples cavalleiro, - é justo!
entre galas, à praia do Restello.
Antes d'isso e emquanto os seus credores
o trouxerem de rastos e aos pedaços,
e lhes não validarmos seus penhores,
e nos chamarem - pobretões, devassos, -
emquanto lhe apuparem desprimores
nos Circos d'essa Europa os vis palhaços,
o convite é baixeza de villão!
Senhor, Não."
JFSR 2016
JFSR 2016
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