Edila Andrade
nasceu no Faial, Açores, em 1920. Após terminar o Liceu, rumou a Lisboa para
frequentar o curso de piano no Conservatório. Uma das suas colegas de casa
adoeceu, e foi chamado um médico, o indiano Pundalik Gaitonde. Assim, por mero
acaso, aconteceu o encontro de Edila com Lica, marcante para o resto das suas
vidas.
Só cinco anos
depois, pós muitas cartas trocadas entre Lisboa e Goa, a pianista açoriana
casou com o médico goês numa cerimónia de compromisso, apenas pelo civil, numa
conservatória de Lisboa.
O ineditismo da
sua história começa logo pelo incomum da sua situação: uma menina, vinda de um
ambiente tradicional do Faial, que se enamora por um goês, para mais hindu. E
que, vencidas resistências familiares e sociais das famílias de um e de outro
dos noivos, inicia, sem dramatismos nem militâncias, um percurso de vida que
acumula transgressões. Um namoro de uma europeia com um não europeu numa
sociedade com muitos traços de machismo e de racismo; um casamento civil. E misto,
na embiocada Lisboa dos anos 50, e perante uma Igreja conservadora e
intolerante; um almoço de boda no Forte de Peniche; uma rede de relações
arriscadas com círculos de independentistas goeses, muito antes de a própria oposição
anti-salazarista articular explicitamente a componente anticolonialista. Depois,
do outro lado, um casamento censurável para as tradições de uma família brâmane;
um esforço contínuo para ultrapassar a sua situação de estrangeira, de católica
e de impura na família e no meio social do marido.
Em 1947, a Índia tornara-se
uma nação independente, Nehru era o seu novo governante. Todas as expectativas
eram possíveis e Pundalik Gaitonde não queria assistir de longe.
Partiram para a Índia
no final de 1948.
Nomeado
entretanto director do Hospital dos Milagres, o Dr. Gaitonde optou por se estabelecer em Mapusa.Quanto
à pianista, montou um pequeno estúdio afiliado à Royal School of Music de
Londres, ensinava e dava concertos.
A pouco e pouco,
o Dr. Gaitonde foi-se interessando activamente pela política.
Preso no dia 17
de Fevereiro de 1954 por motivos políticos, Pundalik Gaitonde foi deportado
para Portugal. Edila acompanhou-o. Passou ano e meio no Aljube. À saída, Palma
Carlos, advogado e conselheiro, tratou dos documentos para que partissem
imediatamente. Em Nova Deli,
Gaitonde, figura agora relevante da resistência goesa, decidiu utilizar essa
notoriedade em proveito da causa. Com o assentimento de Nehru, partiu pelos
quatro cantos do mundo combatendo a campanha internacional portuguesa e
defendendo as pretensões indianas. Também Edila se empenhou à sua maneira,
colocando-se ao serviço da "All India Rádio" para dar voz às emissões dirigidas
para Portugal.
É portuguesa na
Goa hindu; filo-indiana na Goa dos colonos nacionalistas; é outcasted na sociedade bramânica; é «amigada» para um seu conterrâneo
dos Açores, o patriarca das Índias; é traidora nos meios salazaristas ( e, em
geral, numa sociedade portuguesa então intoxicada de propaganda anti-indiana); é
suspeita entre falsos freedom fighters.
Em Novembro de 2011
veio a lume pela Editorial Tágide, com Prefácio de António
Manuel Hespanha, o livro de Edila, sob o título «As Maçãs Azuis – Portugal e Goa (
1948-1961)».
Bibliografia:
«As Maçãs Azuis –Portugal
e Goa 1948-1961», Edila Gaitonde, Prefácio António Manuel Hespanha, Editorial Tágide,Lda,
Novembro de 2011;
«GOA – História de
um Encontro»,Catarina Portas/Inês Gonçalves, Almedina, Outubro de 2001
JFSR 2016
O livro é muito interessante.
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