quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

GOESES E O ESTADO NOVO (4) - TELO DE MASCARENHAS



GOESES E O ESTADO NOVO (4)

TELO DE MASCARENHAS

   Nasceu em Mormugão a 23-3-1899. Formou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, em 1930. Juntamente com Adeodato Barreto e José Paulo Teles fundou o Instituto Indiano e o jornal Índia Nova, em Coimbra. Findo o Curso foi nomeado Agente do Ministério Público, e mais tarde Notário.
Telo de Mascarenhas,1940

   Em 1948, voltou a Goa, e como a polícia o assediasse por motivo das suas ideias políticas, radicou-se em Bombaim, onde fundou o jornal “Ressurge, Goa!”, no qual colaborou largamente com temas de carácter político.
   Preso e deportado para Portugal, foi acusado “de procurar separar da mãe-pátria portuguesa, o territórios de Goa, Damão e Diu”, e condenado pelo Tribunal Plenário de Lisboa a 24 anos de prisão e 3 anos de medidas de segurança.
   Após 10 anos de prisão na cadeia política de Caxias, foi amnistiado em consequência da forte pressão internacional, regressando, definitivamente, à Índia, e a Goa, onde faleceu, em Camorlim de Bardez, a 20 -10-1969.
   Foi tradutor e divulgador, em Portugal, de Rabindranath Tagore.

De entre as suas obras, destacam-se, pelo testemunho da sua experiência pessoal durante o Estado Novo, as seguintes:

ALGEMAS E GRILHETAS (Páginas de crítica & combate),1951-1952
Telo de Mascarenhas
Edições “Ressurge, Goa!”, Bombay, 1952


A ONDA DE VASA DO CHARCO IMPERIALISTA VAI SUBINDO…
(Desfazendo calúnias anónimas)
Por Telo de Mascarenhas
Edição do “Ressurge, Goa!”, Bombay, 1952

«O nosso passado político
  
     Não obstante termos desempenhado várias funções oficiais na Metrópole e termos vivido durante um longo período em Portugal, nunca renegamos o nosso ideal nacionalista e nunca fizemos segredo das nossas ideias.
     O ideal Nacionalista nasceu em nós, e num grupo de goeses que faziam os seus estudos em Portugal, mercê do conhecimento da História da Índia e da nossa própria história, das nossas tradições e do nosso glorioso passado.(…)
     Levados pelo nosso ardor nacionalista, fundávamos em Lisboa, em 27 de Janeiro de 1926, o Centro Nacionalista Hindu, em cuja sessão inaugural foi saudada a Índia com discursos inflamados de puro patriotismo, que o “Bharat” de Hegdó Dessai publicou em número especial.(…)
     Seguiu-se depois, em Coimbra, em 1927, a era de renovação literária com fundo sentido nacionalista com o jornal “Índia Nova” (Órgão dos Estudantes Goeses das Universidades de Portugal) e do qual foi alma dinâmica, entre outros, o malogrado Dr. Adeodato Barreto.»



POEMAS DE DESESPERO E CONSOLAÇÃO
Por Telo de Mascarenhas
“Edições Oriente”, Panjim(Goa), 1971



«Estes Poemas foram escritos na Cadeia do Forte de Caxias, uns, nos momentos de angústia – são Poemas de Desespero, cheios de pessimismo e amargura; outros, nos momentos de bom humor, - são Poemas de Consolação, boutades sanglantes, espécie de cantigas de escárnio e maldizer.
A vingança é o prazer dos Deuses, - dos Deuses e dos mortais como eu.»





REBELIÃO

O pequeno talude
diante da janela
quadrada e gradeada
da minha cela,
minora e ilude
as agruras desta vida
triste e delida,
com o milagre
de profusa floração,
uma alucinação
de cores álacres
que não chega a ser
revolução.

A natureza não ousa
Pôr-se em rebelião,
E alterar a ordem
À porta desta prisão.

No cimo do talude,
com passos cadenciados,
passeia a sentinela
armada até aos dentes,
de metralhadora certeira,
baioneta e cartucheira.
Um arremedo grotesco
do Deus da Guerra,
que a ninguém aterra.
A arma não lhe dá
Força nem coragem.
Com o seu ar de gendarme,
é mais medroso que um chacal,
sempre pronto para fugir
ao mais pequeno sinal
de perigo ou alarme.
                                 5-6-69

JFSR 2016



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