domingo, 21 de fevereiro de 2016

GOESES E O ESTADO NOVO (2)




Outras Obras de Menezes Bragança




«À Margem Duma Ideia»
Editor – Luís de Menezes Bragança, habilitado com o Curso Completo do Liceu de Nova-Goa, - Chandór, Índia Portuguesa, 1927



  «Tomaram alguns estudantes de Coimbra, nossos conterrâneos, a iniciativa da criação de um Instituto Indiano (*), no intuito de interessar o meio português pelas manifestações de cultura e civilização da Índia e promover estudos de indologia na península ibérica e nos países ibero-americanos.
   É credora de aplauso a simpática ideia e tem o mérito de ser oportuna.
   No apelo que lançaram ao público, e tiveram a gentileza de me endereçar, dizem as razões que os incitaram a pensar nesse alto empreendimento. Avulta entre outras o facto de a intelectualidade portuguesa “raro se ter interessado pelo estudo da cultura e civilização da Índia, pesar de ter sido Portugal a primeira nação a conhecê-la de perto”.
   Infelizmente assim é. Não que a acção portuguesa no Oriente, durante os tempos da conquista, tivesse como protagonistas meros aventureiros que, fortes em arrojo, fossem débeis em cultura.
(…) Nenhum, porém, estudou a Índia nos seus monumentos literários, na sua filosofia, nas suas concepções religiosas, na sua ciência.
   Compreende-se. Vinham dominados pelo preconceito clássico da unidade de civilização. Civilizados eram apenas os povos, como eles, formados na cultura greco-latina e cristãos. O resto era mais ou menos selvagem, mais ou menos bárbaro.
(…) Nos últimos tempos, a vida portuguesa tomou uma feição absorventemente retrospectiva.
(…) Ela prevalece nas escolas, nas academias e, mormente, na imprensa. As excepções contam-se a dedo. Que eu saiba, vejo apenas o núcleo da Seara Nova empenhado em libertar os cérebros dessa tara cultural. A imprensa, chamada de grande informação, claro que não serve ideias. Está ao serviço de interesses, como quaisquer empresas mercantis.
(…) Na política colonial, essa tendência regressiva gera devaneios imperialistas a quererem um Império ultramarino como unidade política distinta e subalterna da metrópole.
(…) Como se, nesta hora emancipadora dos povos, houvesse matéria prima para conquistas e a política colonial pudesse calcar os direitos da consciência!
   A cristianização na Índia foi, sem possibilidade de contestação, predominantemente um acto de força.
(…) Ora, tanto a conquista como a cristianização pela acção do Estado pressupõem o mesmo velho postulado: a inferioridade dos conquistados e dos convertidos. Inferioridade em raça, cultura, costumes e crenças.
(…) A politica colonial portuguesa não pode traduzir-se em exaltações históricas. (…) A nossa época é do Trabalho e do Direito.
   Tem de se afirmar no sentido de garantir aos povos coloniais uma vida civil cada vez mais ampla e orientá-los para o aproveitamento inteligente das suas possibilidades morais e materiais, por meio de uma educação moderna e sólida, educação muito diversa do psitacismo característico das nossas escolas, magníficas para formar papagaios.
   Tal me parece que seja a obra que o Instituto Indiano deve concorrer para levar a efeito, interessando neste alto empreendimento o escol da intelectualidade portuguesa, mormente os espíritos novos, e criando uma corrente de opinião, muito divergente da que avassala aquele meio.
   Claro está que não tem de abrir mão do objectivo que ditou a sua criação. Simplesmente, terá de derivar também a sua actividade para o terreno das realidades, servindo-lhe os estudos sobre a cultura e a civilização da Índia para varrer a teia de preconceitos e dissipar a névoa dos espíritos.
   Chandór, 30 de Julho.»



(*) Júlio Francisco Adeodato Barreto ( Margão, 3 de dezembro de 1905 - Coimbra, 6 de agosto de 1937), mais conhecido como Adeodato Barreto, foi um poeta e escritor goês. As suas obras contêm importantes arquétipos e paradigmas da cultura hindu.
Licenciou-se em Direito em 1928 e em Ciências Histórico-Filosóficas em 1929, respectivamente, na Faculdade de Direito e na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Em Outubro de 1929, foi eleito presidente do Centro Republicano Académico, onde proferiu discursos, promoveu sessões de estudo, debates e conferências, no desejo de divulgar os valores da cultura indiana.
O seu sonho, ainda finalista universitário, era o de criar um jornal, tendo, assim, surgido a Índia Nova(1928-29), em Coimbra, do qual foi director juntamente com José Teles e Telo de Mascarenhas, de que saíram seis números, e Círculo (1934), que editou sete números.
Abalançou-se à empresa de fundar o Instituto Indiano, sediado na Faculdade de Letras de Coimbra, contando com os apoios de Mendes dos Remédios, Providência da Costa e Joaquim de Carvalho, que prontamente o auxiliaram a organizá-lo, correspondendo-se com orientalistas de renome, como Rabindranath Tagore e Silvain Lévi. A actividade do Instituto foi coroada de alguns sucessos. Conferências, artigos de jornais onde se desenvolveram temas indianos, bem como a publicação das Edições Swatwa.




«CARTA A UM INGÉNUO A Propósito dos Últimos Acontecimentos»
Editor- Luís de Menezes Bragança, Chandór, Salcete, Índia Portuguesa, 1927

 




[Comentário à revolta de 3 de Fevereiro de 1927, liderada pelo General Gastão de Sousa Dias, a primeira tentativa consequente de derrube da Ditadura Militar que então se consolidava em Portugal na sequência do Golpe de 28 de Maio de 1926]








«Á PORTA DA SOCIEDADE DAS NAÇÕES (Para a História da Ditadura)»
Editor- Luís de Menezes Bragança, Chandór, Índia Portuguesa, 1928

 




[Crítica ao pedido de empréstimo apresentado pelo Governo da Ditadura Militar à Sociedade das Nações em finais de 1927]
 









JFSR 2016

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