UM EXTRAORDINÁRIO GUITARRISTA DE COIMBRA, NATURAL DE GOA
ALBANO DE NORONHA
Félix ALBANO DE NORONHA, segundo guitarra de Artur Paredes nas primeiras gravações com
Edmundo de Bettencourt, a que se seguiu depois um período de primeiro guitarra
em acompanhamentos de cantores, nomeadamente com Armando Goes e ainda em solos
instrumentais que nunca chegaram a sair, falecido a 1 de Janeiro de 1968.(1)
Albano de Noronha |
Eis a emocionada
evocação feita pelo seu colega e acompanhante, Afonso de Sousa:
“Albano de
Noronha, então estudante de Medicina, gozou de justificada auréola dentro da
mesma modalidade. E maior seria ainda se à delicadeza da composição pudesse
aliar a mesma delicadeza de execução, pois a sonoridade ressentia-se de certa
rigidez no dedilhar. Porque a compor…que deliciosas variações e canções saíram
da sua inspirada emotividade, tão doces, tão harmoniosas e tantas vezes
repassadas de um nostálgico acento oriental, filho de um saudosismo bem
compreensível em quem se desterrara da terra-mãe!
Era impressionável a sua sensibilidade
auditiva; extraordinária a faculdade de ornamentar um tema ou uma frase,
revestindo-os de meios tons e dissonâncias, como um autêntico cinzelador de
harmonias.
Neste particular as dificuldades de muitos –
sobretudo dos acompanhadores – encontraram nele pronta e feliz solução. Embora
integrado na nova escola não escondia a sua predilecção pelo sentimento
lisboeta, enaltecendo-lhe francamente o rendilhado de certos acompanhamentos.
Devo-lhe por assim dizer, a minha quase
iniciação, desde que me foi dado ouvi-lo no seu quarto da rua de S. João, onde
nasceu o ensejo de observar e de me aventurar também…
Correram anos sobre uma colaboração constante
até que seguimos os nossos rumos profissionais. Mas Coimbra, como eu, guarda
ainda na memória uma ou outra das suas
criações, sobretudo das que na voz de Armando Goes encontravam a mais adequada
expressão.
Pena foi que não ficassem registadas algumas
das manifestações dessa sua inspiração.
Das suas duas gravações pessoais em que tomámos
parte, uma mal sonorizada, outra retida por desorganização da empresa, apenas
foi editado um disco de minha execução, ficando Albano de Noronha privado de
perpetuar a excelência de seus méritos.
A anos de distância, sinto dever-lhe esta justíssima
homenagem."(2)
A cidade e a sua Academia encontram-se, ainda, em dívida para com a memória deste extraordinário executante da guitarra de Coimbra!
Bibliografia:
Niza, José: «Fado de Coimbra», II edição, Ediclube, incluído na série "Um
Século de Fado", 1999;
(2)Sousa, Afonso de:
«Breve notícia de uma geração artística em colaboração com o Orfeon Académico
de Coimbra (Separata do livro «Bodas de Diamante do Orfeon Académico»),
Coimbra, 1955.
JFSR 2016
JFSR 2016
Sem comentários:
Enviar um comentário