quinta-feira, 21 de abril de 2016

General Francisco Augusto Martins de Carvalho



General Francisco Augusto Martins de Carvalho

  "No dia 27 de Setembro de 1841, nasceu em Coimbra Francisco Augusto Martins de Carvalho, filho do íntegro jornalista Joaquim Martins de Carvalho, intimerato autor dos Assassinos da Beira.
  (…) Joaquim Martins de Carvalho havia de ser mais tarde preso por patuleia e conduzido juntamente com Agostinho de Morais Pinto de Almeida e outros ao Limoeiro de Lisboa, onde permaneceu de Fevereiro a Julho de 1847, sem meios para se sustentar a si próprio e muito menos para valer à esposa e ao filho, que assim teve de deixar ao desamparo.
   A Francisco Augusto Martins de Carvalho e a sua mãe valeu o parente Venceslau Martins de Carvalho, que os recebeu na sua casa de Atadôa, do concelho de Condeixa, suprindo na possível medida a ausência do chefe da família, injusta e violentamente encarcerado.
   (…) Vencidos os primeiros passos da instrução oficial, cedo e decidiu Francisco Augusto Martins de Carvalho a abraçar a carreira das armas (…).
   (…) elevado ao posto de tenente coronel, é por decreto de 5 de Abril de 1894 enviado a Moçambique, a inspeccionar extraordinariamente os corpos da guarnição dessa colónia, donde regressou no ano seguinte(…); em 11 de Outubro de 1895 é colocado fora do quadro para ir em comissão organizar e comandar as forças da guarnição do Estado da Índia (…).
   «Partindo para essa colónia – lê-se no Álbum de Contemporâneos Ilustres, fascículo n.º 44, relativamente à comissão exercida na Índia – e chegado ali, não pode proceder logo à organização de que fora incumbido e que, segundo o plano de Ferreira e Almeida, era a constituição de quatro companhias de guerra. Esse plano não foi posto em execução, e Francisco Augusto Martins de Carvalho foi nomeado, em Novembro de 1895, comandante do batalhão de infantaria do Estado da Índia e Reitor interino do Liceu Nacional de Nova Goa. Em 23 de Dezembro do mesmo ano foi nomeado comandante da província de Satary e de todo o território que constitui o concelho de Sanquelim, competindo-lhe também o cargo de administrador rural e o desempenho de funções administrativas. No dia 28 de Fevereiro seguinte era exonerado do honroso cargo de reitor do Liceu Nacional de Nova Goa e recebia a nomeação de  vogal do Supremo Conselho de Justiça Militar.»
   No entretanto, desenvolvera-se contra Martins de Carvalho uma intriga que o desgostou ao ponto de pedir a exoneração dos cargos de administrador do concelho de Sanquelim e de comandante militar de Satary, comissão – no dizer da portaria de 25 de Maio de 1896 - « que circunstâncias extraordinárias tornaram de excepcional importância e das quais se desempenhou com muito zelo, inteligência e dedicação».
  
(…) Regressado à metrópole, foi promovido a coronel, prestando serviço  em várias unidades, acabando por chefiar o distrito de reserva n.º 23 em Coimbra, abandonando esse lugar por desentendimentos com o ministro da guerra, e reformando-se no posto de general de brigada em 6 de Novembro de 1902.
   Da distinção com que Martins de Carvalho se desempenhou dos cargos em que por promoção ou em missão de confiança se encontrou investido, ficou registo nos louvores que muitas vezes lhe foram publicamente feitos, e nas medalhas com que foi condecorado, desde a de comportamento militar até à Torre e Espada, ganha por serviços prestados na Índia.
   (…) Da propensão para as letras – que se apresenta como a faceta dominante de um espírito insaciável de cultura e infatigável na ilustração do seu semelhante nos falam (…) um conjunto de publicações de carácter didáctico, de entre as quais Noções elementares de tiro (sem nome do autor), Nova Goa, 1894.
   (…) Não satisfeito de desempenhar-se com galhardia da tarefa que tomara sobre os seus ombros por falecimento de seu pai (18 de Outubro de 1898), da direcção de O Conimbricense (…) o General Martins de Carvalho, continuando com fervor nos seus estudos de história geral, de historiografia local e de bibliografia (…) foi publicando:
em 1910, «Guerra Peninsular», notas, episódios e extractos curiosos; no mesmo ano, Algumas horas na minha livraria; em 1914, em folhetins da Gazeta de Coimbra, as Portas e Arcos de Coimbra (…); em 1919, a Ermida e igreja do Corpo de Deus em Coimbra; e em 1921, As edições do Hissope, apontamentos bibliográficos.
   Quási ao tombar do ano de 1921, no dia 25 de Dezembro, apagou-se a chama já vacilante que animava aqueles 77 anos laboriosamente vividos (…).
   Postumamente saíram em folhetins, na Gazeta de Coimbra, Fontes e Chafarizes de Coimbra (…); e ficaram em adiantado estado de preparação Batalhões académicos da Universidade de Coimbra, Subsídios para a história da imprensa e do jornalismo de Coimbra e a segunda edição, em nove volumes, do Dicionário bibliográfico militar português, trabalhos ainda inéditos.(...)"
 Do Prefácio, de José Pinto Loureiro

Bibliografia:
«Portas e Arcos de Coimbra», General F. A. Martins de Carvalho 
Edição da Biblioteca Municipal, Coimbra, 1942

JFSR 2016

domingo, 17 de abril de 2016

CÓDIGO DE MANU OU LEIS DE MANU



 Código de Manu
   
  O Código de Manu situa-se, aproximadamente, no ano 1000 A. C. Manu foi um personagem mítico, considerado “Filho de Brahma e Pai dos Homens”.
Os hindus possuíam quatro livros sagrados, os chamados Livros Sagrados dos Vedas: o  Mahabharata, o Ramayana, os Puranas e as Leis Escritas de Manu.

LEIS DE MANU*
 O Código de Manu era o mais antigo, dividindo-se em Religião, Moral e Leis Civis. Escrito em sânscrito, é tido como a legislação mais antiga da Índia, e estabelece o sistema de castas na sociedade Hindu.
  Historicamente, as leis de Manu são tidas como a primeira organização geral da sociedade sob a forte motivação religiosa e política.  
  Redigido entre os séculos II a.C. e II d.C. em forma poética e imaginosa, as regras no Código de Manu são expostas em versos. Cada regra consta de dois versos cuja métrica, segundo os indianos, teria sido inventada por um santo eremita chamado Valmiki, em torno do ano 1500 a.C.
  Os idealizadores do Código de Manu julgavam que a coação e o castigo eram essenciais para se evitar o caos produzido na sociedade, advindo da decadência moral humana. Neste código há uma série de ideias sobre valores, tais como: Verdade, Justiça e Respeito.
  Havia nele uma estreita correlação entre o direito e os dispositivos sacerdotais, os problemas de culto e as conveniências de castas, debaixo do manto religioso e político, embora privilegiassem as castas superiores, sobretudo a dos brâmanes. 

A Penalidade na Índia**





   
 Aquele, que pertencesse à classe média ou inferior, era nele duramente penalizado. À casta dos brâmanes, que era formada pelos sacerdotes, foi dado o comando social. Os dados processuais que versam sobre a credibilidade dos testemunhos atribuem validade diferente à palavra dos homens, conforme às castas que pertencem.
  A mulher encontrava-se em extrema desvantagem, numa condição de completa passividade e submissão dentro de tal Código, sendo tratada como objecto a ser manobrado e julgado pelo homem.





FONTES:
https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3digo_de_Manu
http://virusdaarte.net/india-o-codigo-de-manu/


Manou tient le premier range parmi les legislateurs, parce qu'il à exprimé dans son code le sens entier du Véda: aucun code n'est appruvé lorsqu'il contredit le sens d'une loi promulguée par Manou.
Vrihaspati (Legislador Hindú)





*LEIS DE MANÚ,Primeiro Legislador da índia
Compreendendo o Offício dos Juízes:Deveres da Classe Commerciante e servil:Leis Civis e Criminaes; vertidas em Português do original francês = Les Livres Sacrés de LÓrient = de Mr.G.Pauthier: Por José de Vasconcellos Guedes de Carvalho(1), Bacharel Formado em Direito pe Universidade de Coimbra; Cavaleiro da Ordem de Christo; Juiz Relator do Supremo Conselho de Justiça Militar; e Juiz da Relação de Goa, do Estado da índia.
Nova-Goa, 1859, na Imprensa Nacional 
  
"Manou tient le premier range parmi les legislateurs, parce qu'il à exprimé dans son code le sens entier du Véda: aucun code n'est appruvé lorsqu'il contredit le sens d'une loi promulguée par Manou."

Vrihaspati (Legislador Hindú) 

(1) 1.º Visconde de Riba Tâmega, Amarante, Real, Casa do Carvalho, 03.9.1822, f. Lisboa, 07.01.1892

**A PENALIDADE NA ÍNDIA SEGUNDO O CÓDIGO DE MANU, Memória apresentada à 10.ª Sessão do Congresso Interncional dos Orientalistas por Cândido de Figueiredo,S.S.G.L.
Sociedade e Geografia de Lisboa, Imprensa Nacional. Lisboa, 1892

As obras digitalizadas pertencem à biblioteca particular do Autor. Na reprodução das imagens deverá ser referida a sua origem.
                                
                                
JFSR 2016 

sábado, 16 de abril de 2016

A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA (S.G.L.)

A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA (S.G.L.)

A Sociedade de Geografia de Lisboa é uma sociedade científica criada no ano de 1875, no contexto do movimento europeu de exploração e colonização, dando na sua actividade, desde o início, particular ênfase à exploração do continente africano.
D.Luís I
A 10 de Novembro de 1875, um grupo de 74 subscritores requereu ao rei D. Luís, a criação de uma sociedade, a designar por Real Sociedade de Geografia de Lisboa, tendo como objectivo promover e auxiliar o estudo e progresso das ciências geográficas e correlativas, no País.
Entre os subscritores figuravam António Augusto Teixeira de Vasconcelos, António Enes, Eduardo Coelho, Luciano Cordeiro, Manuel Joaquim Pinheiro Chagas, Sousa Martins, António Cândido de Figueiredo, António Lino Netto e Teófilo Braga, além de muitos outros intelectuais, jornalistas e políticos da época.
A Sociedade propunha-se realizar sessões, conferências, prelecções, cursos livres, concursos e congressos científicos e conceder subsídios de investigação destinados a viagens de exploração e investigação científica. As informações obtidas seriam publicadas e disseminadas em arquivos, bibliotecas e museus. Propunha-se ainda estabelecer relações permanentes com outras instituições europeias com as quais pudesse trocar informações e colaborações.
A partir de Dezembro de 1876 a Sociedade iniciou a publicação do Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, que ainda subsiste.
Tem no seu distintivo o escudo nacional sobre a esfera armilar, com o lema “Por Mares Nunca D’antes Navegados”.
Luciano Cordeiro(1844-1900)
Dentro das paredes da Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL) guarda-se, ao lado do património imaterial das ideias de Luciano Cordeiro e de Ernesto de Vasconcelos, seus primeiros secretários gerais, e dos vários presidentes como António Augusto de Aguiar, Bernardino Machado e outros que a dirigiram firme e sabiamente, um riquíssimo espólio material, logo representado pelos cadernos de campo e demais documentação manuscrita de Serpa Pinto, Roberto Ivens, Hermenegildo Capelo, Henrique de Carvalho, Silva Porto e Gago Coutinho, entre outros.
 Vários naturais do Estado da Índia foram sócios correspondentes da Sociedade de Geografia de Lisboa, designadamente Jaime Rangel, Jerónimo Quadros, Joaquim Filipe Nery Soares Rebelo, José António Ismael Gracias, Júlio Gonçalves, e muitos outros.                              A 3 de Abril de 1928 foi agraciada com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, a 8 de Maio de 1935 foi feita Grande-Oficial da Ordem do Império Colonial, a 24 de Novembro de 1950 foi galardoada com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, a 12 de Junho de 1957 foi elevada a Grã-Cruz da Ordem do Império, a 25 de Março de 1964 foi feita Membro-Honorário da Ordem do Infante D. Henrique e a 17 de Junho de 1983 foi feita Membro-Honorário da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.

Fontes:
 http://www.socgeografialisboa.pt/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_de_Geografia_de_Lisboa

Algumas publicações da S.G.L.:

"A Responsabilidade Portuguesa na Convocação do X Congresso Internacional dos Orientalistas, Relatório por G.de Vasconcellos Abreu", Imprensa Nacional, Lisboa, 1892;

"Simplification Possible de la Composition en Caractères Arabes, Mémoire présente à la 10.ème session du Congrés International des Orientalistes par A.R.Gonçalves Vianna M.S.G.L.", Lisbonne, Imprimerie Nationale,1892;








"A Índia Portuguesa, Conferencia feita em 16 de Março de 1908 por Hypacio de Brion,Capitão de Fragata,S.S.G.L.",Typographia da Cooperativa Militar,Lisboa,1908.    




                                                                                                                             






BOLETIM DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA
12.ª Série-N.ºs 3 e 4
Lisboa, Imprensa Nacional,1893
«MITRAS LUSITANAS DO ORIENTE
Catálogo dos Prelados da Egreja Metropolitana e Primacial de Goa e das Dioceses Suffraganeas com a recopilação das Ordenanças por elles emitidas, e Summario dos factos notáveis da História Ecclesiástica de Goa»por Casimiro Christovão de Nazareth
2.ª edição corrigida e aumentada.

SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA
LISTA DOS SÓCIOS EM 10 DE NOVEMBRO DE 1925








Todas as obras publicadas pertencem à biblioteca particular do autor. A reprodução das imagens digitalizadas deverá referir a sua origem.


JFSR 2016
   
                                                                                           

quinta-feira, 14 de abril de 2016

HOMENAGEM DO POVO DE DAMÃO AOS HERÓICOS AVIADORES PORTUGUESES



Homenagem do povo de Damão
Aos heróicos aviadores portugueses
Gago Coutinho e Sacadura Cabral


  A primeira travessia aérea do Atlântico Sul foi concluída com sucesso pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em 1922, no contexto das comemorações do Primeiro Centenário da Independência do Brasil.
 A épica viagem iniciou-se em Lisboa, a 30 de março de 1922, empregando um hidroavião monomotor especialmente concebido para a viagem, batizado Lusitânia. Sacadura Cabral exercia as funções de piloto, e Gago Coutinho as de navegador, tendo este último criado um horizonte artificial adaptado a um sextante, que empregaria durante a viagem, a fim de medir a altura dos astros, invenção que revolucionou a navegação aérea à época.
  A primeira etapa da viagem foi concluída, no mesmo dia, sem incidentes em Las Palmas, nas Ilhas Canárias.
  No dia 5 de abril, partiram rumo à Ilha de São Vicente, no Arquipélago de Cabo Verde, cobrindo 850 milhas. Lá se demoraram até 17 de abril para reparos no hidroavião - que fazia água nos flutuadores -, tendo partido da Praia, na Ilha de Santiago, rumo ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo, em águas brasileiras, onde, após um voo de 1.700 quilometros, amararam com precisão junto daqueles rochedos em pleno Atlântico Sul, apenas com o recurso do método de navegação astronômica criado por Gago Coutinho, no dia 18 .
  O mar revolto causou danos ao Lusitânia, que perdeu um dos flutuadores. Os aeronautas foram recolhidos por um Cruzador da Marinha Portuguesa, que os conduziu a Fernando de Noronha.
  Com a opinião pública portuguesa e brasileira envolvida no feito, o Governo Português enviou outro hidroavião, batizado Pátria. A 11 de maio decolaram de Noronha. Entretanto, nova fatalidade acometeu os aeronautas, quando, tendo retornado e sobrevoando o arquipélago de São Pedro e São Paulo para reiniciar o trecho interrompido, uma pane no motor obrigou-os a amarar de emergência, tendo permanecido nove horas como náufragos, até serem resgatados por um cargueiro inglês.
  Reconduzidos a Fernando de Noronha, aguardaram até 5 de junho, quando lhes foi enviado um novo Fairey, batizado pela esposa do então Presidente do Brasil Epitácio Pessoa (1919-1922) como Santa Cruz.
  Posto na água do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, tendo levantado voo rumo a Recife, fazendo escalas em Salvador, Porto Seguro, Vitória e dali para o Rio de Janeiro, então Capital Federal, amarou a 17 de junho de 1922 em frente à Ilha das Enxadas, nas águas da baía de Guanabara.
  Embora a viagem tenha consumido setenta e nove dias, o tempo de voo foi de apenas sessenta e duas horas e vinte e seis minutos, tendo percorrido um total de 8.383 quilômetros.
  Aclamados entusiasticamente como heróis, os aeronautas haviam concluído com êxito não apenas a primeira travessia do Atlântico Sul, mas pela primeira vez na História da Aviação, tinha-se viajado sobre o Oceano Atlântico apenas com o auxílio da navegação astronômica a partir do aeroplano.
  A repercussão do seu feito fez-se sentir em todo o espaço Português.
   
  No pequeno e distante território de Damão, integrante do Estado Português da Índia, o sucesso dos heróicos aviadores portugueses foi comemorado com grande solenidade, no dia 6 de Agosto de 1922, tendo o “HERALDO”, de Nova Goa, no seu número de 18 do mesmo mês, publicado a descrição da patriótica festa feita pelo jornalista António Moreira.
  Iniciada com um solene Te Deum na Sé Episcopal, com a presença do Governador Fernando Cruz, acompanhado da comitiva, recebidos à porta do templo pelo Presidente da Comissão Executiva dos festejos Constâncio Roque da Costa,foi pelo Prior da mesma, Pe. José Maria Pereira da Gama,  proferida uma alocução congratulatória.
  De seguida, nos Paços Municipais do Concelho de Damão teve lugar uma sessão solene, com a participação de um coro de cinquenta crianças, de ambos os sexos, todas vestidas de branco, acompanhado de música, interpretando o trecho “Caravelas do Céu”, com versos do Sr. A.C. de Oliveira e música do Sr. Machado, especialmente composto para a ocasião. Proferiram discursos: o Sr. Constâncio Roque da Costa; o Presidente da Câmara Municipal de Damão Dr. Castelino Fernandes; o advogado António Francisco Moniz; o advogado Diogo de Brito; e o Governador do Distrito Sr. Fernando Perpétuo da Cruz. 



Constâncio Roque da Costa 

“Foi depois servida uma taça de champagne a todos, e doces da Casa Cornaglia. Dançou-se alguma cousa, e cerca da meia noute retiraram-se todos levando as mais agradáveis impressões da festa em honra dos aviadores, promovida pelo povo de Damão.”

Bibliografia:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_travessia_a%C3%A9rea_do_Atl%C3%A2ntico_Sul
«Homenagem do Povo de Damão Aos heróicos aviadores portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral em 6 de Agosto de 1922», Tip.Bragança & C.ª, Nova Goa, 1922

A obra “Homenagem do Povo de Damão(…)” pertence à biblioteca privada do Autor. A reprodução das imagens publicadas deverá referir a sua origem.



JFSR 2016

terça-feira, 12 de abril de 2016

ALBANO DE NORONHA



UM EXTRAORDINÁRIO GUITARRISTA DE COIMBRA, NATURAL DE GOA
ALBANO DE NORONHA

 Félix ALBANO DE NORONHA, segundo guitarra de Artur Paredes nas primeiras gravações com Edmundo de Bettencourt, a que se seguiu depois um período de primeiro guitarra em acompanhamentos de cantores, nomeadamente com Armando Goes e ainda em solos instrumentais que nunca chegaram a sair, falecido a 1 de Janeiro de 1968.(1)
Albano de Noronha




Eis a emocionada evocação feita pelo seu colega e acompanhante, Afonso de Sousa:


 “Albano de Noronha, então estudante de Medicina, gozou de justificada auréola dentro da mesma modalidade. E maior seria ainda se à delicadeza da composição pudesse aliar a mesma delicadeza de execução, pois a sonoridade ressentia-se de certa rigidez no dedilhar. Porque a compor…que deliciosas variações e canções saíram da sua inspirada emotividade, tão doces, tão harmoniosas e tantas vezes repassadas de um nostálgico acento oriental, filho de um saudosismo bem compreensível em quem se desterrara da terra-mãe!
 Era impressionável a sua sensibilidade auditiva; extraordinária a faculdade de ornamentar um tema ou uma frase, revestindo-os de meios tons e dissonâncias, como um autêntico cinzelador de harmonias.
 Neste particular as dificuldades de muitos – sobretudo dos acompanhadores – encontraram nele pronta e feliz solução. Embora integrado na nova escola não escondia a sua predilecção pelo sentimento lisboeta, enaltecendo-lhe francamente o rendilhado de certos acompanhamentos.
 Devo-lhe por assim dizer, a minha quase iniciação, desde que me foi dado ouvi-lo no seu quarto da rua de S. João, onde nasceu o ensejo de observar e de me aventurar também…
 Correram anos sobre uma colaboração constante até que seguimos os nossos rumos profissionais. Mas Coimbra, como eu, guarda ainda na  memória uma ou outra das suas criações, sobretudo das que na voz de Armando Goes encontravam a mais adequada expressão.
 Pena foi que não ficassem registadas algumas das manifestações dessa sua inspiração.
 Das suas duas gravações pessoais em que tomámos parte, uma mal sonorizada, outra retida por desorganização da empresa, apenas foi editado um disco de minha execução, ficando Albano de Noronha privado de perpetuar a excelência de seus méritos.
 A anos de distância, sinto dever-lhe esta justíssima homenagem."(2)




A cidade e a sua Academia encontram-se, ainda, em dívida para com a memória deste extraordinário executante da guitarra de Coimbra!


Bibliografia:
Niza, José: «Fado de Coimbra», II edição, Ediclube, incluído na série "Um Século de Fado", 1999;
(2)Sousa, Afonso de: «Breve notícia de uma geração artística em colaboração com o Orfeon Académico de Coimbra (Separata do livro «Bodas de Diamante do Orfeon Académico»), Coimbra, 1955.

JFSR 2016

domingo, 10 de abril de 2016

A Revolta dos Ranes de 1912



A Revolta dos Ranes de 1912


"Em 1912 novamente se insurgiram os ranes por o governo não ter atendido à sua reclamação contra as alvidrações de terrenos cultivados, que alegavam terem sido muito alteadas nesse ano por ordem do comandante militar de Satari.
Couceiro da Costa
 O Governador Couceiro da Costa, empregando o melhor da sua actividade, requisitou uma companhia de landins, que veio auxiliar a  nossa tropa, e, perseguindo com esta fôrça os bandidos, conseguiu finalmente acabar a insubordinação com a prisão dos seus chefes e principais consócios na canhoneira Sado, donde, com todas as formalidades  legais*, saíram deportados para a Ilha do Príncipe."

 *(sic)




[Francisco Manuel Couceiro da Costa (1870-1925)  foi o 114.º Governador da Índia Portuguesa, entre 1910 e 1917, o primeiro após a Proclamação da República] Portuguesa



P.e M.J. Gabriel de Saldanha, HISTÓRIA DE GOA vol.I História Política,2.ª edição, Casa Editora Livraria Coelho, Nova-Goa, 1925, Bastorá- Tipografia Rangel, p.330


















Soldado indígena-Índia



A respeito da deportação destes revoltosos, e da sua passagem por Moçambique, é interessante a nota redigida pelo jornalista João Albasini no jornal O Africano, que se editava em Lourenço Marques:



OS MISERÁVEIS
“o mal peor é o haver nascido…”(Do livro de “Job”)

(…) Lemos n’um jornal que havia sido apresentada no parlamento uma lei de amnistia aos “revoltosos de Satary” e esta notícia fez nos lembrar na scena presenciada no dia 19 de Março d’este anno da graça, 3.º da República, na ponte caes, quando o vapor África se preparava para largar: aquela ignóbil cambada de revoltosos da Índia, umas míseras carcaças humanas cheias de fome, tossindo desabaladamente a sua pulmoeira, que embarcava para S. Thomé com as pernas felpudas de arranhões à mostra, de surrado e nojento langotim ou trapo a tapar-lhes as partes pudendas ou, mais propriamente a attrahir os olhares dos espectadores para as ditas partes.
“Aquelles bandidos, aquellla canalha, aquelles malandrões, aquellas feras” – explicou alguém ao nosso lado – aquelles miseráveis eram os “bandidos de Satary”… Cumprimentamos os vencidos que de cócoras e de langotim, olhavam estarrecidos para a força armada da Guarda Cívica que os conduzira até à ponte!
E pela nossa mente perpassou aquela página fulgente de ironia em que o brilhante Eça fustigou a comédia das revoltas da Índia… que tanto assustavam os patriotas e tão bons resultados pecuniários davam aos “paclés e fringuis”!...
Os “bandidos de Satary”! Que assumpto para um Poema Herói-cómico se na verdade à sombra de uma pretensa defesa de territórios se não estivesse tripudiando em cima de uns desgraçados nus, farrapos miseráveis da humanidade, tão cheios de fome como sedentos de Justiça!
Justiça! Ficção grotesca!
Méra ficção! Embuste espectaculoso com que uma Nação com estandartes, bandeiras, charangas e foguetes, empolgou territórios e bens, promettendo a distribuição equitativa dos bens materiais e moraes, o derramamento da sua civilização!
(…) Antigamente, nos tempos da “outra senhora” – n’aquelle abominável regime da adoração da Cruz – estes “bandidos” eram acima de tudo profundamente odiados pelo christãos – que é toda a Goa – por essas ruins tendências de adorar não sei que, e não poder passar sem comer…tornando o alimento mais caro…
Hoje, com o haver decretado o Sr. Affonso Costa a egualdade perante Deus, desinteressando-se da sorte de todos os Deuses succedeu o que era de prever: fraquejou o Deus menos forte e o gentio “Rhane” continuou a “levar para o seu tabaco”  - para maior glória e triumpho da Democracia!... – que é como os antigos diziam “Ad-Majorem Dei Gloria”!
(…) Tratou-se pela vigésima vez de reprimir a mesma rebelião periódica originada pelas exigências absurdas e flagrante injustiça de não quererem conceder aos naturaes o pão a que todo o vivente tem direito!
(…) Os bandidos e revoltosos da índia são o producto refinado das injustiças e poucas vergonhas! Hoje é a Índia – amanhã será Moçambique!
(…) “Bandidos, revoltosos” são designações sonoras, mas erradas.
(…) Houvesse uma balança para aferição moral; houvesse um tribunal onde estas questões se derimissem e nós veríamos quem eram os “bandidos de Satary”.
Bem dizia Oliveira Martins que a história da nossa dominação no Oriente é um monumento de ignomínia…

João Albasini, in O AFRICANO, Ano III número 101 Lourenço Marques 12 de Abril de 1913, Director: João Albasini Adm.Secret.: João dos Santos Rufino editor: José Albasini

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