quarta-feira, 21 de setembro de 2016

«NOSSA TERRA», J. J. DA CUNHA (1)

A crise das subsistências na Índia Portuguesa, em 1918

«NOSSA TERRA - Estudos Económicos, Financeiros, Sociais e Internacionais», J.J.da Cunha
Prefácio: F.A.Wolfango da Silva
Editor: Panduronga Sinai Vardé, com o curso complementar de Ciências e Letras
Tipografia Rangel, Bastorá, Índia Portuguesa, 1939

PREFÁCIO
  "(...) Foi um feliz acaso que me pôz em contacto com o Sr. J.J. da Cunha.
   Em 1917, esta pequenina Índia participava dos grandes cataclismos que assolavam o mundo inteiro. Ao lado da terrível pandemia gripal que felizmente nesta colónia produziu o mínimo de estragos em vidas humanas e nos serviços, principiava a desenhar-se a perspectiva da fome pela insuficiência da produção do arroz e pelas dificuldades da importação dêste género de primeira necessidade.(...)
   Governava nessa ocasião a Índia Portuguesa o Sr. Freitas Ribeiro, espírito desempoeirado, audacioso, homem de acção e pouco amigo de diplomacia e de frases protocolares. (...)
   Em uma das nossas conversas íntimas tão frequentes no Palácio do Cabo, disse-me S. Excia. "Vou confiar-lhe a presidência de uma comissão para resolver a crise das subsistências nesta Índia. Hoje é a crise que se esboça, amanhã é a fome com tôda a sua crueza."(...)
   A Portaria da nomeação da Comissão para resolver o problema da crise das subsistências era de 28 de Janeiro de 1918. Convoquei imediatamente a comissão na ala da Junta de Saúde e em duas sessões lançaram-se as bases das medidas a serem propostas ao Gôverno. Foi o Sr. J. J. da Cunha encarregado de apresentar o relatório. As discussões correram felizmente na maior cordialidade e davamos por finda a nossa missão.
   O relatório do Sr. Cunha e os projectos perfilhados pela Comissão em 13 de Março e enviados ao Gôverno no mesmo dia, só foram publicados no Boletim Oficial de 10 de Maio, e um outro projecto do mesmo Sr. Cunha apresentado na mesma sessão da Comissão foi convertido em Portaria e publicado no B. O. de 23 de Abril.(...)
   Este livro na sua modéstia espelha os verdadeiros sentimentos do seu autor e revela o amor que êle tem à terra do seu berço. As medidas que apresentou para a salvação a pátria numa emergência gravíssima, deram optimos resultados e junto com a outras promulgadas pela mão firme do Sr. Freitas Ribeiro, a onda da crise famínea passou sem ninguém dar por isso.(...) E nem uma palavra de louvor ou de estímulo pelo ardente patriotismo do Sr. Cunha que pensa sempre no engrandecimento moral e material da sua terra.

O que mais admiro no Sr. Cunha é a firmeza do seu carácter e a sinceridade dos seus actos. Não se limitou o Sr. Cunha a cumprir as suas obrigações oficiais como membro da Comissão, mas seguiu a questão com o maior interesse e solicitude fóra do âmbito oficial. Deu a prova disso no seu requerimento dirigido ao Sr. Governador Geral na plena sessão do Conselho do Govêrno protestando contra a sórdida especulação dos vendedores de arroz que faziam negócio com a fome dos habitantes desta Índia.

Francisco António Wolfango da Silva

Li o livro todo. Pensei em fazer juízo crítico das ideias do autor prestando a devida homenagem às suas intenções. Em muitos assuntos nêle discutidos, o Sr. Cunha vê bem e vê longe. É o conhecimento profundo das necessidades dêste povo com quem o ilustre autor etá em contacto permanente. É o seu intenso amor ao torrão natal, que o levam a expôr as suas ideias e pedir o  remédio aos males que impedem o progresso desta colónia digna de melhor sorte. O tempo far-lhe-á a devida justiça.(...)"
   Nova-Goa, Dezembro de 1938
   F. A. Wolfango da Silva







Sem comentários:

Enviar um comentário