VISITA DO PAPA PAULO VI À ÍNDIA
Quando Giovani
Montini, Cardeal Arcebispo de Milão, a 21 de Junho de 1963, foi eleito Papa,
sucedendo a João XXIII, Franco Nogueira ao tempo Ministro dos Negócios
Estrangeiros, num comentário à escolha de Paulo VI, observou que se tratava de uma
vitória da “ala esquerda da Igreja”. De
acordo com o Ministro, Salazar fez o seguinte desabafo: “Vamos ter tempos difíceis com a Igreja”.
PARIS MATCH n.º818/12 Décembre 1964 |
Ainda nesse ano
de 1963, foi conhecido o propósito do novo Pontífice participar no Congresso
Eucarístico Mundial, em
Bombaim. A possibilidade de o Papa ir à Índia – que dois anos
antes anexara militarmente os territórios ultramarinos portugueses de Goa,
Damião e Diu – foi vista por Salazar como “inconcebível”.
Salazar ficou
deveras irritado com a possibilidade de Paulo VI, em 1964, visitar a antiga
Província Ultramarina Portuguesa, tudo fazendo no campo diplomático para
impedir a realização da viagem anunciada. Na sua perspectiva, esta viagem seria
uma legitimação que o Vaticano concedia à União Indiana, e com reflexos a nível
internacional, e que Portugal não podia, de forma alguma, aceitar. A visita, no
entender de Salazar, podia significar o apoio, pela Santa Sé, da anexação de
Goa pela União Indiana.
Quando Salazar soube da intenção de Paulo VI
visitar Goa e orar no túmulo de São Francisco Xavier, sentiu uma profunda raiva
interior, misturada com um forte sentimento de indignação. Ficou, como escreveu
Franco Nogueira, “possesso de revolta”.
Através do
Cardeal Cerejeira, avisou que, se o Papa realizasse a viagem à Índia e,
sobretudo, visitasse Goa, a Concordata – assinada entre Portugal e a Santa Sé,
em 1940 – seria denunciada e a política religiosa de Portugal “radicalmente” alterada. Salazar ameaçou,
ainda, cortar relações oficiais entre o nosso País e a Santa Sé.
O Cardeal
Cerejeira, extremamente preocupado e “aterrado” com a situação, encontrou-se
por duas vezes com o Pontífice nesse ano de 1964. O último encontro seria a 13
de Outubro de 1964. E como parecia que estes encontros não surtiam o efeito
desejado, inclusivamente no último o Papa não permitiu que se aflorasse o
assunto, o Cardeal e a diplomacia nacional conseguiram contactar com diversas
personalidades com vista a demover o Papa da sua visita a Goa.
Par un geste, le salut indien, il conquit le coeur de la foule |
Paulo VI fez a viagem, é certo. Mas ficou-se
por Bombaim e não foi a Goa, como pretendia.
A ida a Bombaim, realizada em Dezembro de
1964, constituiu um forte ponto de fricção entre o Estado Novo de Salazar e a
Igreja Católica de Paulo VI.
Salazar, criticou
e condenou, de forma clara e inequívoca, a visita de Paulo VI. Mais: sentiu a
atitude do Papa como um insulto a Portugal e aos milhões de católicos
nacionais.
Salazar
classificou a visita de “agravo gratuito,
no duplo sentido de que é inútil e de que é injusto, praticado pelo chefe do
Catolicismo em relação a uma Nação católica”. Além de a ter considerado
como uma “injúria feita a Portugal”.
Paulo VI foi o
primeiro papa a visitar os cinco continentes, e, até ao papa João Paulo II, o
mais viajado, pelo que foi chamado o Papa Peregrino.
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