sexta-feira, 13 de maio de 2016

ÓSCAR PINTO LOBO ( 1913 - 1995)



OSKAR, o "Príncipe Perfeito"
  
   Fernando Óscar Pinto Lobo (Oskar), nascido em 1913, descendente de uma família de Goa, e de avô inglês.
   Licenciou-se em Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde estudou pintura.
   António Ferro foi afastado do Secretariado Nacional da Informação em 1949. Foi o princípio do fim da sua Política do Espírito e da tutela sobre uma fatia considerável das artes gráficas portuguesas.
    Eixo programático do SNI e do Estado Novo, o turismo elitista, assente na pureza do ar e dos costumes regionais, cedeu o passo ao turismo de massas, à iniciativa privada e a práticas de marketing mais agressivas e abrangentes. As praias e o clima tornaram-se a locomotiva desta estratégia e o Sol, entidade intangível e felizmente fora do alcance de mãos humanas, tinha bastante potencial iconográfico.
  
Portugal País de Turismo, Anuário, 1961-1962
Foi um arquitecto, Óscar Pinto Lobo (Oskar) quem desempenhou a tarefa, ilustrando pictóricos e calorosos discos solares nas inúmeras publicações que ao longo das décadas de 50 e 60 venderam os estatísticos 250 dias de sol por ano a estrangeiros ávidos de luz e calor. Foi diretor gráfico do SNI, e consultor técnico da Junta de Turismo da Costa do Sol. Ao serviço de instituições oficiais e privadas ligadas ao Turismo, desenvolveu muita da sua actividade como designer e ilustrador, com presença assinalável nas publicações da Junta e nos anuários Portugal País de Turismo onde dividiu a colaboração artística com Manoel Lapa.
   

 Nos anos 40, Óscar Pinto Lobo, arquitecto, pintor, é o decorador da casa Olaio. A marca aposta em força no mobiliário de estilo americano, em madeira de carvalho.
Toucador(Olaio), Óscar Pinto Lobo
    










De 1932 a 1943, Oskar teve papel relevante em jornais humorísticos e revistas infantis. Para além de ter colaborado na revista Ilustração, publicou histórias aos quadradinhos na revista ABC-Zinho, nomeadamente com os personagens Tom Migas e o seu cavalo Cara Linda, e as adaptações de Bucha e Estica.

Laurel & Hardy

 







Foi ainda colaborador no Sempre Fixe (1932), em O Senhor Doutor (1934), no Rim-Tim-Tim (1939) e O Faísca (1943). Depois dessa data deixou de desenhar histórias aos quadradinhos, mas ficaram célebres as aventuras da personagem a que acima nos referimos, bem como aquelas em que parodiava estrelas de cinema.
Ana Salazar, 2012
   Pai da estilista Ana Salazar, tinha com a sua mulher Ema sempre a casa cheia de amigos. Na casa da Praia da Vitória, junto ao Monumental, havia festas, serões, tertúlias enfim, por onde passavam o João Villaret, António Ferro, Fernanda de Castro, ou Almada Negreiros de quem o seu pai era muito amigo. Ana reconhece-se permanentemente no pai – um homem de figura irrepreensível, sempre muito bem vestido, e a quem no Liceu Camões chamavam o “príncipe perfeito”. Da família dele, só conheceu a avó e as duas tias, Olga e Lia (Amélia, que «chegou a andar no liceu»).
    O seu nome inclui-se entre os designers e artistas que muito concorreram para uma imagem moderna do País e da TAP, como Sebastião Rodrigues, Keil do Amaral, Eduardo Anahory, Louis Féraud, Ana Maravilhas, Sérgio Sampaio, Leonildo Dias, João Velez, Carlos Rafael, Manuel Rodrigues e José Soares.
   Integrou o grupo de sócios fundadores, juntamente com o escultor Martins Correia, pintores João Barão, Manuela Pinheiro, Eduardo Alarcão, Silvana, Claudine Thireau, Conceição Bartolomeu, Helena Justino, o jornalista Rodrigues Vaz, a escultora Dorita Castelbranco, os pintores Amcoc, Mário Silva e Michel Horta e Costa, da Tertúlia Literária e Artística PARLATÓRIO, criada em 18 de Outubro de 1989, cujo objectivo principal era o da divulgação cultural e artística. A primeira reunião que definiu os seus objectivos, teve lugar na Restaurante Parlatório.
    Faleceu em Lisboa em 1995.

Fontes:










 

JFSR 2016

terça-feira, 10 de maio de 2016

MÁRIO TAVARES CHICÓ: GOÊS POR ADOPÇÃO…



   MÁRIO TAVARES CHICÓ: GOÊS POR ADOPÇÃO…

   A 18 de Maio de 1905 nasceu, em Beja, Mário de Sousa Tavares, um dos quatro filhos de Manuel Jacinto de Sousa Tavares e Júlia Luísa da Silva. Esta última, fora adoptada ainda menina pelo Eng. Manuel Rodrigues Chicó, natural de Goa, agrónomo das propriedades da Casa de Cadaval, e por sua esposa, D. Rufina da Conceição Guimarães, natural de Évora. O casal Chicó tomou também conta de Mário desde pequeno e este, ao atingir a maioridade, adoptará o seu apelido, assumindo o nome de Mário Tavares Chicó.
   O desconhecimento de tal facto tem levado a que venha a ser-lhe atribuída origem Indo-Portuguesa paterna e materna, e afirmar-se que a sua mãe era Goesa católica*.
   Frequentou os liceus de Beja e Évora, a Escola Agrícola de Coimbra, a Faculdade de Direito e, a Faculdade de Letras de Lisboa, licenciando-se em Ciências Históricas e Filosóficas em1935.
   Em Fevereiro de 1935, publicou numa separata da “Medicina – Revista de Ciências Médicas e Humanismo” um trabalho sobre a catedral de Évora no qual evidenciou o papel da documentação fotográfica no estudo do património.
   Entre 1937 e 1939, com uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, frequentou o Instituto de Arte e Arqueologia da Universidade de Paris, e o curso de Arqueologia Medieval na École de Chartres.
   Viajou pela Europa, visitando e estudando a organização de museus e aprofundando o conhecimento do património arquitectónico em diversos países. Ao longo dos seus estudos, foi desenvolvendo o seu método de abordagem da História da Arte através da estética.
   De volta a Portugal, elaborou em 1941 o projecto de adaptação do Palácio da Mitra a Museu da Cidade de Lisboa e a respectiva organização e selecção das colecções a expor. Tomou parte no IV Congresso da Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências, realizado no Porto em 1942.
   Nesse mesmo ano de 1942, casou com Maria Alice Lami (1913-2002), Licenciada em Ciências Históricas e Filosóficas pela Faculdade de Letras de Lisboa.
Alice e Mário Chicó
  
  O ano de 1951 marcou uma viragem da maior importância na vida e nos interesses de Mário Tavares Chicó. Medievalista já com a sua reputação firmada, formado nas melhores escolas e com uma larga visão da arte europeia, Mário Chicó conseguiu nesse ano levar avante um projecto que acalentava há muito — o reconhecimento da arte cristã na Índia, a análise dos seus edifícios e dos seus problemas.
   Aprovado superiormente e com o patrocínio e auxílio dos Ministérios da Educação Nacional, Ultramar e Obras Públicas, o projecto de Mário Chicó concretizou-se em 1951, ano em que chefiou uma missão de reconhecimento e estudo a Goa, Damão e Diu.
   O objectivo era iniciar o estudo pormenorizado da arquitectura cristã e as suas relações com a arte local. Tal iniciativa implicava a recolha de uma abundante documentação fotográfica, quer dos edifícios religiosos, militares e civis erguidos na Índia pelos portugueses, quer dos outros que continuaram tradições locais e cujo número incluía, portanto, os tempos indus e as mesquitas muçulmanas.
   No caso da Índia, Mário Chicó não só estabeleceu imediatamente a relacionação com os edifícios da metrópole, como chamou a atenção para a influência da arquitectura ocidental nos templos indus de Goa. A arquitectura cristã na Índia foi, na verdade, uma revelação que lhe ficamos devendo. Ninguém se debruçara sobre o assunto até então.
    Faleceu em Lisboa, a 11 de Agosto de 1966.
   O acervo documental de Mário Tavares Chicó e Maria Alice Lami Chicó (1913-2002), conservado por seus filhos Henrique e Sílvia Chicó, encontra-se depositado na Fundação Mário Soares.
  

Fontes:
Azevedo, Carlos de: Mário Chico e a Índia www.fmsoares.pt/aeb/dossiers/dossier06/textos/CAzevedo.pdf
Casa Comum desenvolvido pela Fundação Mário Soares, Arquivos<Mário e Alice Chicó: http://casacomum.org/cc/arquivos?set=e_760

sexta-feira, 6 de maio de 2016

PAULO VI: O PAPA QUE ENFRENTOU SALAZAR



    VISITA DO PAPA PAULO VI À ÍNDIA

   Quando Giovani Montini, Cardeal Arcebispo de Milão, a 21 de Junho de 1963, foi eleito Papa, sucedendo a João XXIII, Franco Nogueira ao tempo Ministro dos Negócios Estrangeiros, num comentário à escolha de Paulo VI, observou que se tratava de uma vitória da “ala esquerda da Igreja”. De acordo com o Ministro, Salazar fez o seguinte desabafo: “Vamos ter tempos difíceis com a Igreja”.
PARIS MATCH n.º818/12 Décembre 1964
   Ainda nesse ano de 1963, foi conhecido o propósito do novo Pontífice participar no Congresso Eucarístico Mundial, em Bombaim. A possibilidade de o Papa ir à Índia – que dois anos antes anexara militarmente os territórios ultramarinos portugueses de Goa, Damião e Diu – foi vista por Salazar como “inconcebível”.
   Salazar ficou deveras irritado com a possibilidade de Paulo VI, em 1964, visitar a antiga Província Ultramarina Portuguesa, tudo fazendo no campo diplomático para impedir a realização da viagem anunciada. Na sua perspectiva, esta viagem seria uma legitimação que o Vaticano concedia à União Indiana, e com reflexos a nível internacional, e que Portugal não podia, de forma alguma, aceitar. A visita, no entender de Salazar, podia significar o apoio, pela Santa Sé, da anexação de Goa pela União Indiana.
   Quando Salazar soube da intenção de Paulo VI visitar Goa e orar no túmulo de São Francisco Xavier, sentiu uma profunda raiva interior, misturada com um forte sentimento de indignação. Ficou, como escreveu Franco Nogueira, “possesso de revolta”.
   Através do Cardeal Cerejeira, avisou que, se o Papa realizasse a viagem à Índia e, sobretudo, visitasse Goa, a Concordata – assinada entre Portugal e a Santa Sé, em 1940 – seria denunciada e a política religiosa de Portugal “radicalmente” alterada. Salazar ameaçou, ainda, cortar relações oficiais entre o nosso País e a Santa Sé.
   O Cardeal Cerejeira, extremamente preocupado e “aterrado” com a situação, encontrou-se por duas vezes com o Pontífice nesse ano de 1964. O último encontro seria a 13 de Outubro de 1964. E como parecia que estes encontros não surtiam o efeito desejado, inclusivamente no último o Papa não permitiu que se aflorasse o assunto, o Cardeal e a diplomacia nacional conseguiram contactar com diversas personalidades com vista a demover o Papa da sua visita a Goa.
Par un geste, le salut indien, il conquit le coeur de la foule
   Paulo VI fez a viagem, é certo. Mas ficou-se por Bombaim e não foi a Goa, como pretendia.
   A ida a Bombaim, realizada em Dezembro de 1964, constituiu um forte ponto de fricção entre o Estado Novo de Salazar e a Igreja Católica de Paulo VI.
   Salazar, criticou e condenou, de forma clara e inequívoca, a visita de Paulo VI. Mais: sentiu a atitude do Papa como um insulto a Portugal e aos milhões de católicos nacionais.
   Salazar classificou a visita de “agravo gratuito, no duplo sentido de que é inútil e de que é injusto, praticado pelo chefe do Catolicismo em relação a uma Nação católica”. Além de a ter considerado como uma “injúria feita a Portugal”.
   Paulo VI foi o primeiro papa a visitar os cinco continentes, e, até ao papa João Paulo II, o mais viajado, pelo que foi chamado o Papa Peregrino.

Fontes: