General
Francisco Augusto Martins de Carvalho
"No dia 27 de
Setembro de 1841, nasceu em Coimbra Francisco
Augusto Martins de Carvalho, filho do íntegro jornalista
Joaquim Martins de Carvalho, intimerato autor dos Assassinos da Beira.
(…) Joaquim Martins
de Carvalho havia de ser mais tarde preso por patuleia e conduzido juntamente com Agostinho de Morais Pinto de
Almeida e outros ao Limoeiro de Lisboa, onde permaneceu de Fevereiro a Julho de
1847, sem meios para se sustentar a si próprio e muito menos para valer à
esposa e ao filho, que assim teve de deixar ao desamparo.
A Francisco
Augusto Martins de Carvalho e a sua mãe valeu o parente Venceslau Martins de
Carvalho, que os recebeu na sua casa de Atadôa, do concelho de Condeixa,
suprindo na possível medida a ausência do chefe da família, injusta e
violentamente encarcerado.
(…) Vencidos os
primeiros passos da instrução oficial, cedo e decidiu Francisco Augusto Martins
de Carvalho a abraçar a carreira das armas (…).
(…) elevado ao
posto de tenente coronel, é por decreto de 5 de Abril de 1894 enviado a
Moçambique, a inspeccionar extraordinariamente os corpos da guarnição dessa
colónia, donde regressou no ano seguinte(…); em 11 de Outubro de 1895 é
colocado fora do quadro para ir em comissão organizar e comandar as forças da
guarnição do Estado da Índia (…).
«Partindo para
essa colónia – lê-se no Álbum de Contemporâneos
Ilustres, fascículo n.º 44, relativamente à comissão exercida na Índia – e
chegado ali, não pode proceder logo à organização de que fora incumbido e que, segundo o plano de Ferreira e Almeida, era a
constituição de quatro companhias de guerra. Esse plano não foi posto em
execução, e Francisco Augusto Martins de Carvalho foi nomeado, em Novembro de
1895, comandante do batalhão de infantaria do Estado da Índia e Reitor interino
do Liceu Nacional de Nova Goa. Em 23 de Dezembro do mesmo ano foi nomeado
comandante da província de Satary e de todo o território que constitui o
concelho de Sanquelim, competindo-lhe também o cargo de administrador rural e o
desempenho de funções administrativas. No dia 28 de Fevereiro seguinte era
exonerado do honroso cargo de reitor do Liceu Nacional de Nova Goa e recebia a
nomeação de vogal do Supremo Conselho de
Justiça Militar.»
No entretanto,
desenvolvera-se contra Martins de Carvalho uma intriga que o desgostou ao ponto
de pedir a exoneração dos cargos de administrador do concelho de Sanquelim e de
comandante militar de Satary, comissão – no dizer da portaria de 25 de Maio de
1896 - « que circunstâncias extraordinárias tornaram de excepcional importância
e das quais se desempenhou com muito zelo, inteligência e dedicação».
Da distinção com
que Martins de Carvalho se desempenhou dos cargos em que por promoção ou em
missão de confiança se encontrou investido, ficou registo nos louvores que
muitas vezes lhe foram publicamente feitos, e nas medalhas com que foi
condecorado, desde a de comportamento militar até à Torre e Espada, ganha por
serviços prestados na Índia.
(…) Da propensão
para as letras – que se apresenta como a faceta dominante de um espírito
insaciável de cultura e infatigável na ilustração do seu semelhante nos falam
(…) um conjunto de publicações de carácter didáctico, de entre as quais Noções elementares de tiro (sem nome do
autor), Nova Goa, 1894.
(…) Não
satisfeito de desempenhar-se com galhardia da tarefa que tomara sobre os seus
ombros por falecimento de seu pai (18 de Outubro de 1898), da direcção de O Conimbricense (…) o General Martins de
Carvalho, continuando com fervor nos seus estudos de história geral, de
historiografia local e de bibliografia (…) foi publicando:
em 1910, «Guerra Peninsular», notas, episódios e
extractos curiosos; no mesmo ano, Algumas
horas na minha livraria; em 1914, em folhetins da Gazeta de Coimbra, as Portas
e Arcos de Coimbra (…); em 1919,
a Ermida e igreja
do Corpo de Deus em Coimbra; e em 1921, As
edições do Hissope, apontamentos bibliográficos.
Quási ao tombar
do ano de 1921, no dia 25 de Dezembro, apagou-se a chama já vacilante que
animava aqueles 77 anos laboriosamente vividos (…).
Postumamente
saíram em folhetins, na Gazeta de Coimbra,
Fontes e Chafarizes de Coimbra (…); e
ficaram em adiantado estado de preparação Batalhões
académicos da Universidade de Coimbra, Subsídios
para a história da imprensa e do jornalismo de Coimbra e a segunda edição,
em nove volumes, do Dicionário
bibliográfico militar português, trabalhos ainda inéditos.(...)"
Do Prefácio, de
José Pinto Loureiro
Bibliografia:
«Portas e Arcos de Coimbra», General F. A. Martins de Carvalho
Edição da Biblioteca Municipal, Coimbra, 1942
JFSR 2016