segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O 1.º BISPO DE MELIAPOR, 5.º DE COCHIM,E 9.º ARCEBISPO DE GOA, PRIMAZ DAS ÍNDIAS, D. FR. SEBASTIÃO DE S. PEDRO, era natural de Condeixa-a-Nova

O 1.º BISPO DE MELIAPOR, 5.º DE COCHIM, E 9.º ARCEBISPO DE GOA, PRIMAZ DAS ÍNDIAS D. FR. SEBASTIÃO DE S. PEDRO (O.E.A.S.*) [n. 1549,Condeixa -f. 7-11-1629, Goa]
D. Fr. Sebastião de S. Pedro, natural de Condeixa-a-Nova, filho de Estêvão Álvares e Mónica Luísa, professou na Graça, Lisboa, em 2 de Julho de 1582, tendo frequentado, em Coimbra, Direito Canónico. 
Passando à Índia no ano seguinte, foi mandado pelo Arcebispo D. Fr. Aleixo de Menezes à Pérsia, na companhia do Pe. Mestre Fr. António de Gouveia, "onde em prol do Cristianismo e do Estado fizeram maravilhas"(1).
Em 1597 veio a Madrid, na qualidade de Procurador Geral da Ordem, sendo designado a 9 de Janeiro de 1606 como o primeiro Bispo de São Tomé de Meliapor, erigida a diocese pelo Papa Paulo V pela acta consistorial de 9 de Janeiro de 1600, território que foi pertença de Portugal entre 1523 e 1662, situado na costa oriental da Índia.
"Chegado ao seu Bispado, o Vice-Rey D.Ruy Lourenço de Távora lhe participou, que, ajuntando gente de guerra, fosse sobre a fortaleza de Palcacate, que o Holandez tinha de sítio; o que executou felizmente, arruinando-a já tomada pelo inimigo, e aprisionando toda a Guarnição, que este lhe mettêra. Da See de Meliapor foi transferido para a de Cochim (1615 a 1625) e desta para a Primacial de Goa"(2), elevado a Arcebispo de Goa e Primaz das Índias.
"Benemérito da religião e da pátria morreo em Goa aos 7 de Novembro de 1629, com 80 anos de idade. Jaz na Cathedral de Gôa, e na campa se lê:
Aqui jaz D. Frei Sebastião de S.Pedro, natural de Condeixa, 1.º Bispo de Meliapor, 5.º de Cochim e 9.º Arcebispo de Gôa, Primaz das índias. Fez o cruzeiro e a capela-mor desta Sé e pôs na perfeição em que se vê. Veio a falecer a 7 de Novembro de 1629."(3)
É autor de "Relação do martyrio dos Padres Frei Nicolau de Mello e Frei Nicolau de S.Agostinho, Eremitas Augustinianos, remetida ao Illmo. D. Fr. Aleixo de Menezes, Presidente do Conselho de Portugal".

*OESA Ordo Eremitarum Sancti Augustini (latine) OSA Ordem de Santo Agostinho (Português)


(1) (2) (3) "Ordem dos Eremitas de S. Agostinho em Portugal (1256-1834)", edição da colecção de Memórias de Fr. Domingos Vieira, OESA, Lisboa, 2011,p.466

Bibliografia
-http://www.catholic-hierarchy.org/bishop/
-Conceição, Augusto dos Santos, "CONDEIXA-A-NOVA", Coimbra, 1941.
- "Illustração Portugueza" - Meliapôr, As Festas do Tricentenário da Diocese, pp.457-463 edição semanal da Empreza d'O Século, n.º60, 15 de Abril de 1907, Lisboa.
-Macedo, Diogo Barbosa -"Bibliotheca Lusitana", Tomo III, pp.698-699, MDCCLII
- "Ordem dos Eremitas de S. Agostinho em Portugal(1256-1834)", edição da colecção de Memórias de Fr. Domingos Vieira, OESA, Lisboa, 2011, História Religiosa - Fontes e Subsídios, Centro de Estudos de História Religiosa, Faculdade de Teologia, Universidade Católica Portuguesa, Volume 8, Carlos S. Moreira Azevedo.

 JFSR 2015

domingo, 27 de dezembro de 2015

O último Phísico-Mór do Estado da Índia, EDUARDO DE FREITAS E ALMEIDA, era natural do Concelho de Condeixa-a-Nova


O último Phísico-Mór do Estado da Índia
EDUARDO DE FREITAS E ALMEIDA, natural do Concelho de Condeixa-a-Nova:

Eduardo de Freitas e Almeida, oriundo de famílias notáveis da região de Condeixa, nasceu na Ega, a 1 de Abril de 1811, filho de Manuel de Freitas e Almeida e de D. Maria Faustino, proprietários, da Vila de Ega, neto paterno de Valério de Freitas e de Mariana de Almeida, do Casal da Cruz, da referida freguesia, e materno de Manuel Pimentel, de Arrifana, e de Maria de Jesus, do Casal da Cruz, tendo sido baptizado no dia 23 de Maio do mesmo ano.
À família Freitas e Almeida pertenciam vários sacerdotes, de entre os quais Luís de Freitas e Almeida, que foi pároco da Ega. De todos os elementos desta família, o mais importante e conhecido viria a ser o Dr. Eduardo de Freitas e Almeida.
Tinham Solar na Ega, mesmo junto à Igreja, uma casa de ampla frontaria rasgada de portas de sacada e janelas de cantarias bem aparelhadas,  estendendo-se a quinta até ao Casal da Cruz.
Casou com D. Anna Máxima de Campos, natural da freguesia de S. Bartolomeu, do concelho de Coimbra, filha de António de Campos Mallo, natural do Gorgulhão, da freguesia de Condeixa-a-Nova - escrivão de direito em Coimbra, na época em que se lavrou a última sentença de morte que assinou como escrivão -, e de Maria Benedita da Costa, natural da freguesia de Currelos, concelho de Carregal do Sal, diocese de Viseu.
Bacharel formado em Coimbra com prémios e distinções, clínico ao serviço da Câmara de Soure durante uma década, foi nomeado, mediante concurso, por Decreto de 14 de Setembro de 1853, Físico-mór do Estado da Índia.
Chegado a Goa a 2, tomou posse em 5 de Maio de 1854, que lhe foi dada pelo Cirurgião-mór do Estado da Índia José António d’Oliveira, e viria a ser o último Físico-Mór daquele território.  
Conhecedor da sua época e imbuído de um espírito de reflexão que imprimia aos seus comentários críticos, Freitas e Almeida foi autor de relatórios devastadores e plenos de observações. Não poupou as instituições locais, mas interessava-se pelo que podia aprender das práticas e costumes indianos.
Idiossincrático, prolixo e acutilante, esse médico coimbrão exercia comentário e crítica sobre tudo que o rodeava - dos habitantes, “imundos por natureza”, em seus “casebres asquerosos”, à própria Escola Médica que veio dirigir(1).
O cargo foi extinto, por decreto de 24 de Dezembro de 1868, nos quadros de saúde do ultramar onde existia (Angola, Cabo Verde, Moçambique, e Índia), e substituído pelo de Chefe do Serviço de Saúde, fundindo-se neste as atribuições tanto de físico-mór como de cirurgião-mór, também extinto pelo citado decreto. O Dr. Freitas e Almeida nunca deixou de usar o título com que fora nomeado para a Índia, embora em documentos oficiais fosse denominado chefe do serviço de saúde.
 Serviu até 9 de Maio de 1871, regressando em seguida, para aguardar a sua reforma, à metrópole, onde também estivera, com licença por motivo de saúde, desde 10 de Maio de 1865 até 14 de Maio de 1866. Por decreto de 21 de Junho de 1871 foi-lhe concedida a reforma no posto de Coronel.
Na véspera do seu regresso de Goa enviou ao Governo-Geral um extenso relatório do seu longo exercício, documento importante para a história do Serviço de Saúde e da Escola Médico-Cirúrgica, do qual se destaca o seguinte trecho:
Cometeria uma flagrante injustiça se neste momento solene, não fizesse uma honrosa menção dos filhos do País que frequentaram as aulas por espaço de dezasseis anos, que tive a honra de dirigir a Escola Médico-Cirúrgica, a de Farmácia e ultimamente a aula de princípios de Física, Química e História Natural; o comportamento dos alunos para comigo e para com os seus dignos mestres foi sempre tal, que jamais me deram o mais pequeno desgosto; entrando o arco do hospital todos deixavam de ser jovens, para se portarem como homens sérios, bem educados e estudiosos; - e foi debaixo de tão felizes auspícios que concluíram seus estudos esses dignos filhos da Escola, que hoje, espalhados pela Ásia, África Oriental e Ocidental, e Oceânia, tanto lustre dão ao País e ao estabelecimento em que aprenderam ”(2).
Veio residir para a Quinta da Barreira, de Condeixa, pertença da família, sendo Provedor de Saúde e dos hospitais do concelho, ali tendo exercido clínica durante muitos anos. Conhecida tradicionalmente por aquele nome, figura em alguns documentos com a designação de Quinta das Ferrãs, topónimo do pequeno aglomerado de casas que se erguem junto a ela e fazem parte do lugar da Barreira. Os estudantes que assassinaram os Lentes da Universidade de Coimbra no Sangardão, ali passaram a noite de 17 de Março de 1828.  Existiam na quinta verdadeiras preciosidades artísticas e etnográficas trazidas da Índia pelo Dr. Eduardo de Freitas e Almeida.
Na Capela do Rosário, do século XVIII, situada no Casal do mesmo nome, a norte da estrada Condeixa-Soure, dedicada a Nossa Senhora do Rosário - que no assento de baptismo figura como sua madrinha -, existe, oferta do Dr. Eduardo de Freitas e Almeida, uma pia de água benta, formada pela metade de uma concha natural e grande tamanho, que veio da Índia,  igual àquela que está nas Almas do Encarnadouro, junto ao Monumento e Museu Militar do Buçaco, e que seria a outra metade.
Sua esposa D. Ana Máxima de Campos e Almeida, que o acompanhou durante a sua estada na Índia, faleceu a 15 de Março de 1883, não tendo descendência. O Dr. Eduardo de Freitas e Almeida veio a falecer em Sebal Grande, no dia 23 de Janeiro de 1889, com setenta e sete anos de idade.

Estão ambos sepultados no Cemitério Municipal de Condeixa-a-Nova.

A campa situa-se na ala direita daquele cemitério - por detrás do monumento funerário em memória de outro ilustre condeixense, o Padre Dr. João Antunes -, existindo gravada na lápide tumular, já muito delida, a seguinte inscrição :
AQUI JAZ
D.ANNA MAXIMA DE CAMPOS E ALMEIDA
MULHER DO PHISICO MOR REFORMADO DA INDIA
EDUARDO DE FREITAS E ALMEIDA QUE ACOMPANHOU
SEU MARIDO NAS VIAGENS E RESIDENCIA DE 16 ANNOS
EM GOA TRACTANDO-O SEMPRE COM TODO O CARINHO,
AMOR E ADMIRAVEL CORAGEM
NASCEU A 31 DE MAIO DE 1818
E FALECEU EM 15 DE MARÇO DE 1883 COM 65 ANNOS
DE IDADE EM MEMORIA DE SUAS VIRTUDES
 LHE MANDOU COLLOCAR ESTA LÁPIDE
SEU SAUDOSO MARIDO
ORAE POR ELLA

AQUI JAZEM
EDUARDO DE FREITAS E ALMEIDA
FALLECEU EM 23 DE JANEIRO DE 1889
SUA SOBRINHA
ANNA MAXIMA DE CAMPOS COSTA


(1) BASTOS, Cristiana, «O ensino da medicina na Índia colonial portuguesa: fundação e primeiras décadas da Escola Médico-cirúrgica de Nova Goa», in "História, Ciências, Saúde" - Manguinhos, Rio de Janeiro, vol. 11 (suplemento 1),p.29, 2004
(2) Boletim do Governo n.º37 de 16 de Maio de 1871, cit. GRACIAS, J.A.Ismael, «Físicos-Móres da Índia no Século XIX», in "O Oriente Português" Revista da Commissão Archeologica da Índia Portuguesa, 11.º ano, n.º 11-12, Novembro e Dezembro, p.278, Imprensa Nacional, Nova Goa,1914



BIBLIOGRAFIA:

- BASTOS, Cristiana, «O ensino da medicina na Índia colonial portuguesa: fundação e primeiras décadas da Escola Médico-cirúrgica de Nova Goa», in "História, Ciências, Saúde" - Manguinhos, Rio de Janeiro, vol. 11 (suplemento 1): pp.11-39, 2004;
- BASTOS, Cristiana, «Medicina, império e processos locais em Goa, século XIX», in "Análise Social", vol. XLII (182), 2007, pp.99-122;
- CONCEIÇÃO, Augusto dos Santos, «CONDEIXA-A-NOVA», Coimbra, 1941;
- GRACIAS, J.A.Ismael, «Físicos-Móres da Índia no Século XIX», in "O Oriente Português" Revista da Commissão Archeologica da Índia Portuguesa, 11.º ano 1 n.º 11-12, Novembro e Dezembro, Imprensa Nacional, Nova Goa, 1914;
- NEVES, Amílcar Santos, «Memórias do Património A Ega e seu antigo termo», Janeiro 2008; 
- http://tombo.pt/ Registos paroquiais portugueses para genealogia

Agradecimentos
A Fortunato Pires da Rocha pela informação dada em primeira mão sobre a existência da sepultura do Dr. Eduardo de Freitas e Almeida no cemitério municipal de Condeixa-a-Nova.
Ao Arquiteto Nuno de Jesus Simão Gonçalves, doutorando da FCTUC, pelo registo fotográfico da campa de D. Ana Máxima de Campos e Almeida e Eduardo de Freitas e Almeida, e a colaboração disponibilizada. 

Advertência: o autor não adopta o novo acordo ortográfico.

 JFSR 2015